Cotidiano

PF aguarda decisão do STF para abrir inquérito contra Geddel

BRASÍLIA – A Polícia Federal aguardará manifestação do Supremo Tribunal Federal ((STF) para decidir se abre inquérito contra o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, suspeito de pressionar o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero a burlar parecer técnico e liberar as obras do La Vue, um prédio de luxo no Porto da Barra, em Salvador. A policia resolveu esperar porque na representação em que pedia ao STF autorização para investigar Geddel constam acusações também contra o presidente Michel Temer e contra o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

As acusações foram formuladas por Calero em depoimento formal à instituição. O delegado responsável pelo caso entendeu que havia indícios suficientes para pedir abertura de inquérito contra Geddel, mas não fez qualquer menção as denúncias do ex-ministro da Cultura contra Temer e Padilha. Para a polícia, cabe ao STF dar os contornos da investigação. Ou seja, o tribunal deverá definir se o inquérito é extensivo ao ministro da Casa Civil e ao presidente da República ou se terá que se limitar ao agora ex-ministro da Secretaria de Governo.

Em depoimento prestado espontaneamente à Polícia Federal, Calero acusou Temer, Padilha e Geddel de pressioná-lo a liberar as obras do La Vue, onde o ex-ministro da Secretaria de Governo seria dono de um dos apartamentos. Segundo o ministro, primeiro Geddel o abordou e, de forma descabida exigiu a liberação das obras do La Vue, mesmo contra parecer técnico do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Geddel teria dito que queria a liberação das obras logo porque era dono de um dos apartamentos do prédio.

Geddel teria exigido que o então colega de governo atropelasse a lei num tom agressivo. Depois do episódio, o presidente da República entrou em cena. Os dois tiveram duas conversas sobre a liberação do La Vue. Numa delas, no Palácio do Planalto, Temer teria dito que a decisão do Iphan de embargar as obras do La Vue estavam criando dificuldades no gabinete dele. Disse ainda que Geddel estava nervoso. O processo sobre o La Vue deveria ser mandado para a Advocacia-Geral da União, que a ministra Grace Mendonça já tinha uma “solução” para o caso.

Na reunião do Palácio do Planalto, Temer disse que “a decisão do Iphan havia criado dificuldades operacionais em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que então o presidente disse ao depoente para que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU (Advocacia-Geral da União), porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução”. Padilha também teria reforçado a pressão para Calero abrir mão do processo e deixar a solução para a AGU.

Temer reconheceu que conversou com o ex-ministro sobre o La Vue, mas negou que tenha pressionado Calero a liberar as obras do prédio. Nesta sexta-feira, um dia depois da divulgação do conteúdo do depoimento do ex-ministro da Cultura, Geddel deixou o governo. Antes da demissão do ministro, o STF pediu parecer do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre a representação da Polícia Federal. A palavra do procurador-geral é considerada fundamental para a futura decisão do STF sobre o caso.