Cotidiano

Pesquisadores brasileiros desenvolvem nanopartículas que podem deixar inativo vírus HIV

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RIO – Pesquisadores brasileiros conseguiram desenvolver um procedimento inovador para impedir que o vírus HIV se conecte ao sangue, num processo que poderia detectar e eliminar o vírus em bolsas de sangue para doação.

Para se reproduzir no organismo, um vírus passa por um processo de ligação das suas partículas às células do corpo infectado, conectando-se a receptores da membrana celular. O trabalho de pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) utiliza nanopartículas carregadas de grupos químicos capazes de atrair os vírus, ligando-se a eles e ocupando as vias que seriam utilizadas para que se ligassem às células saudáveis.

?Esse mecanismo de inibição viral se dá por meio da modificação de nanopartículas em laboratório, atribuindo-se funções à sua superfície pela adição de grupos químicos capazes de atrair as partículas virais e se conectar a elas. Esse efeito estérico, relacionado ao fato de cada átomo dentro de uma molécula ocupar uma determinada quantidade de espaço na superfície, impede que o vírus chegue até o alvo, as células, e se ligue a ele, porque já está ?ocupado? pela nanopartícula?, explica o coordenador Mateus Borba Cardoso.

Os cientistas criaram nanopartículas de sílica, componente químico de diversos minerais, com propriedades superficiais distintas e avaliaram sua biocompatibilidade com dois tipos de vírus, o HIV e o VSV-G, que causa estomatite vesicular.

As nanopartículas de sílica foram escolhidas por sua porosidade, que permite uma boa utilização da superfície com a adição de grupos químicos em seus poros. Depois de sintetizadas, essas partículas passam por reações necessárias para que sua superfície seja funcionalizada de acordo com as afinidades químicas dos vírus.

Grupos químicos específicos foram inseridos na superfície das partículas para que as proteínas virais sejam naturalmente atraídas por elas. As nanopartículas chegaram a reduzir a infecção viral em até 50.

?Esse resultado poderia chegar a 100% se aumentássemos a quantidade de nanopartículas funcionalizadas no período de incubação, mas os testes são realizados em uma faixa otimizada de inativação viral, para que possam ser observados os efeitos nas células atingidas pelos vírus, realçando as diferenças para fins de comparação?, diz o pesquisador.

De acordo com Cardoso, a estratégia poderia ser utilizada, por exemplo, na detecção e eliminação de vírus em bolsas de sangue antes de transfusões. Para isso, está sendo estudado o uso de nanopartículas magnéticas que, uma vez dentro do meio sanguíneo contido na bolsa, se ligariam aos vírus, inativando-os e sendo posteriormente separadas do sangue por um ímã, levando junto as partículas virais.