Cotidiano

Oscar 2017: Entre ?La la land? e ?Moonlight?, ninguém perdeu

SÃO PAULO ? Diante de confusões monumentais, como a que se instalou no domingo à noite, em Los Angeles, no fim da cerimônia de entrega do Oscar, dois movimentos são instintivos: buscar um culpado e fabricar uma teoria de conspiração mirabolante. O primeiro a ser apontado foi ator Warren Beatty, que logo depois tratou de se explicar: ?Eu não estava tentando ser engraçado!?. A teoria veio na forma de planos maléficos engendrados por um dos principais alvos das piadas e discursos de agradecimento, o presidente americano Donald Trump, que afinal não acordou nem após um tuíte provocador enviado ao vivo pelo apresentador Jimmy Kimmel. No fim, a empresa de auditoria Price Waterhouse fez o seu ?mea culpa?.

A despeito de tudo isso, aconteceu no domingo o que parecia improvável: o prêmio de melhor filme mudou das mãos de Jordan Horowitz, produtor de ?La la land: cantando estações?, para as mãos de Barry Jenkins, diretor de ?Moonlight: sob a luz do luar?. É como se a campanha opondo os dois filmes, a partir do anúncio dos indicados e até a cerimônia, tivesse se materializado no palco do Dolby Theatre no espaço de dois minutos e meio. Mas o balanço final que ficará para a história, além das monumentais gafes, é o seguinte: seis estatuetas para ?La la land?; três para ?Moonlight?; dois para ?Manchester à beira-mar? e um para ?Um limite entre nós? ? considerando-se os principais prêmios artísticos.

Os números, no entanto, significam pouco se não forem lidos com atenção e muito discernimento. Na prática, ?La la land? não perdeu para ?Moonlight?, assim como o musical de Damien Chazelle não superou o drama de Barry Jenkins ? ambos se equilibraram e mostraram a diversidade que tanto se almejava. O Oscar é uma premiação da indústria do cinema americano que reconhece tanto o aspecto artístico e estético quanto a expertise técnica dos envolvidos nas produções.

Portanto, se ?La la land? deixou escorrer pelas mãos o Oscar de melhor filme, o musical tem em sua estante as estatuetas de atriz (Emma Stone) e os dois troféus musicais (trilha sonora para Justin Hurwitz, e canção para ?City of lights?). O resto são prêmios considerados técnicos, como fotografia (Linus Sandgreen), direção de arte (David Wasco e Sandy Reynolds-Wasco) e até, pasme, a direção (Damnien Chazelle). É uma conquista e tanto.

Da mesma forma, ?Moonlight?, conquistou o prêmio máximo, o que o coloca sob os holofotes. Mas suas outras duas estatuetas ? melhor ator coadjuvante para Mahershala Ali, e melhor roteiro adaptado para Jenkins e Tarell Alvin McCraney ? não são menos importantes do ponto de vista artístico. Junto a esses pode-se colocar também o tributo à magnífica Viola Davis por sua atuação em ?Um limite entre nós?. Esse conjunto vale como resposta ao movimento ?Oscars so white? (Oscar tão branco), no ano passado, quando nenhum integrante de minorias recebeu sequer uma indicação. Regras foram mudadas, os votantes passaram a prestar mais atenção no que vinha sendo produzido. Agora, ainda há muito a ser feito.