Cotidiano

Opção de invasão não foi considerada porque consequências seriam imprevisíveis, diz secretário de Segurança

MANAUS ? A prioridade da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) após o fim da rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, é recapturar os foragidos do regime semiaberto. Ao menos 87 detentos fugiram do Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), unidade que fica ao lado do Compaj, antes do início da rebelião na tarde do dia 1º de janeiro.

O número oficial de mortos na rebelião chega a 60, segundo balanço apresentado nesta segunda-feira em coletivapelo comitê de crise da Secretaria. O motim é considerado o maior em número de mortes na região Norte e chegou a ser comparado com o massacre do Carandiru em São Paulo, em 1992, quando 111 presos foram mortos.

A rebelião que teve início na tarde de domingo, por volta das 16h, durou aproximadamente 12 horas. De acordo com o secretário de Segurança Pública do Estado, Sérgio Fontes, o comitê de crise e a inteligência das polícias optaram por não invadir o presídio até que as negociações fossem esgotadas.

? A opção de invasão não foi considerada viável até porque as consequências seriam imprevisíveis. Então optamos pela negociação, até porque é o papel do Estado. E nessa negociação, acreditamos que salvamos muitas vidas. Isso não quer dizer que não vai haver responsabilização. Obviamente, os presos que cometeram assassinato serão responsabilizados ? destacou Fontes.

Ainda, segundo o secretário, a polícia não é responsável por nenhuma das mortes.

? Todas as vidas que foram ceifadas ontem foram por essa briga entre criminosos, pelos detentos. Eles são responsáveis pelas mortes na sua integralidade. Nós vamos instaurar inquérito policial. A perícia já foi acionada para identificar os corpos e para produzir provas para o inquérito policial. Não vamos deixar de apurar, e os responsáveis serão punidos ? esclareceu.

FORAGIDOS

Os foragidos do regime semiaberto, segundo O titular da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), Pedro Florêncio, deram apoio à rebelião antes da fuga.

? Eles deram apoio e repassaram as armas por um buraco na muralha que divide as unidades do semiaberto e do fechado. A fuga pode ter sido arquitetada para desviar o efetivo da polícia para o Institito Penal Antônio Trindade e dar aos presos do regime fechado espaço para iniciar a rebelião ? explicou.

Ao menos 30 presos, segundo estimativa inicial da SSP-AM, já foram recapturados. A estratégia da Secretaria de Segurança Pública é montar barreiras nas rodovias AM -010 e BR-174.

? Temos um plano para isso. O comitê prevê vários estágios de crise. Nós atingimos o primeiro estágio ontem. A nossa estratégia é de inteligência e está toda voltada para localizar os foragidos com barreiras móveis para interceptar e não deixar que eles se movimentem ? explicou Fontes.

AJUDA NACIONAL

Fontes destacou ainda durante coletiva que o Estado já pediu apoio do Ministro da Justiça, Alexandre Moraes. Ontem, o governador do Amazonas, José Melo, conversou com o ministro. Para Fontes é preciso um esforço nacional para evitar que situações como a ocorrida no presídio de Manaus não se repita novamente.

? O Estado do Amazonas está disposto a contribuir. Hoje temos quase 50 policiais nas fronteiras ajudando a Polícia Federal. Nós precisamos fazer o combate ao narcotráfico internacional de maneira organizada e coordenada no Brasil inteiro e para isso é preciso investimento. O narcotráfico é o problema número um da Segurança Pública. O que vimos ontem é uma briga entre facções e organizações criminosas, mas ela não se resume na esfera unicamente do presídio. O presídio é um reflexo do que tem aqui fora. É a disputa por espaço, por boca de fumo, por mercado, por rota e tudo tem haver com uma única coisa, o dinheiro.

Fontes destacou que o país é o primeiro consumidor de craque do mundo o segundo maior consumidor de cocaína, perdendo apenas para os Estados Unidos.

? Nós não temos nenhuma plantação de folha de coca em território nacional. Tudo que nós temos e consumimos vêm dos três países que são os maiores do mundo: Colômbia, Peru e Bolívia. A fronteira toda da Colômbia é com o Amazonas e o Peru também. Se nós temos um problema grande com derivados de cocaína nós precisamos priorizar a região Norte. O principal é não deixar a droga entrar.