Cotidiano

Observatório revela Sol em detalhes inéditos

RIO ? Concebido principalmente para estudar o chamado ?Universo frio?, como galáxias distantes ou as imensas nuvens de gás e poeira que dão origem a novas estrelas e planetas, o observatório Alma, no Chile, mostrou que também pode ser usado para revelar detalhes inéditos de nosso fumegante Sol na faixa do espectro eletromagnético na qual trabalha, a milimétrica/submilimétrica. Com isso, os astrônomos ganham mais um poderoso instrumento para melhor entender nossa estrela, ampliando a gama de dados usados para analisar seu comportamento.

– Estamos acostumados a ver como nosso Sol se parece em luz visível, mas há limites no que isso pode nos dizer sobre a superfície dinâmica e a energética atmosfera de nossa estrela mais próxima ? lembra Tim Bastian, astrônomo do Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA (NRAO, na sigla em inglês), uma das instituições de pesquisa internacionais responsáveis pela construção e operação do Alma. – Para compreender completamente o Sol, precisamos estudá-lo em todo espectro eletromagnético, incluindo a porção milimétrica e submilimétrica que o Alma pode observar.

Nas primeiras imagens de alta resolução do Sol produzidas pelo Alma, os astrônomos se focaram numa mancha solar com aproximadamente duas vezes o tamanho da Terra. Estas regiões concentram intensos campos magnéticos que fazem com que tenham uma temperatura um pouco mais baixa do que as das áreas ao seu redor, deixando-as com uma aparência escura devido ao contraste. No caso, o Alma captou características da chamada cromosfera, camada da estrela logo acima da que forma sua face visível, a fotosfera, e misteriosamente bem mais quente que a própria superfície solar.

A um comprimento de onda de 1,25 milímetro, que permite fazer imagens mais próximas da superfície visível do Sol, a mancha aparece mais bem delineada, enquanto que a 3 milímetros vê-se os efeitos da turbulência que ela provoca na cromosfera. Entender o aquecimento e a dinâmica da cromosfera são exemplos de questões que as futuras observações do Sol com o Alma vão ajudar a responder.

Embora o Sol já tivesse sido observado anteriormente na faixa milimétrica, como pela antena brasileira de 14 metros de diâmetro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) instalada em Atibaia, São Paulo, estas imagens e dados careciam de maior resolução e qualidade. O Alma, por sua vez, é um dos mais avançados e poderosos observatórios astronômicos em operação atualmente em todo mundo. Composto por 66 antenas espalhadas no Planalto de Chajnantor, no Deserto do Atacama, Chile, ele perscruta o Universo na faixa milimétrica/submilimétrica do espectro eletromagnético, ideal justamente para observar estruturas extremamente frias no espaço. O observatório de mais de US$ 1 bilhão foi construído por um consórcio formado por diversas instituições internacionais de pesquisas astronômicas, que além do NRAO inclui o Observatório Europeu do Sul (ESO), o Observatório Nacional de Astronomia do Japão (NAOJ) e fundações nacionais de ciência dos EUA, Canadá, Taiwan, Coreia do Sul e Chile.