Cotidiano

O que Trump fez até agora na política ambiental dos EUA

64770670_US President Donald Trump receives a figurine of a sheriff during a meeting with county.jpgRIO – É difícil acompanhar: em pouco mais de 15 dias de governo, o presidente americano, Donald Trump, já baniu a entrada de refugiados e imigrantes de sete países nos Estados Unidos, cortou o repasse governamental a ONGs que promovam o aborto e ordenou a diminuição da carga regulatória do Obamacare ? entre (muitas) outras mudanças.

Em meio ao volumoso noticiário que acompanha o início do mandato do republicano, há mudanças em curso ou já efetuadas que marcam uma nova era na política ambiental ? condizentes com o célebre tuíte, de 2012, em que o milionário afirmou que “O conceito de aquecimento global foi criado pelos e para os chineses de forma a tornar a indústria dos EUA não-competitiva” (posteriormente, Trump minimizou o significado da postagem); ou ainda sua afirmação, em maio de 2016, de que iria “cancelar” o Acordo de Paris, um dos mais recentes marcos no esforço mundial de conter as mudanças climáticas.

Segundo apontou um artigo do jornal “New York Times”, uma espécie de aliança tríplice entre o Executivo, o Congresso (dominado por Republicanos) e a indústria tem aberto uma via rápida para mudanças bruscas de direção na política energética e climática do país. Confira abaixo algumas delas:

1. Indicação para a Agência de Proteção Ambiental (EPA)

64676943_FILE - In this Jan 18 2017 file photo Environmental Protection Agency Administrator-designa.jpgO Senado americano está analisando, atualmente, a indicação por Trump do procurador-geral do estado de Oklahoma Scott Pruitt para chefiar a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês). Cerca de 400 funcionários da agência enviaram, nesta segunda-feira, uma carta aberta aos parlamentares pedindo que rejeitassem a indicação. Ainda não há uma data definida para a decisão do Senado.

Como procurador-geral do estado americano, Pruitt processou a agência que poderá chefiar14 vezes, buscando enfraquecer as regulamentações ambientais do governo Obama. Em algumas declarações públicas, ele já deixou clara a intenção de enfraquecer a capilaridade e a interferência da EPA em empreendimentos.

Seu histórico inclui também a revelação, em premiada série de reportagens publicada em 2014 pelo “New York Times”, de que Pruitt enviou cartas para órgãos governamentais reclamando da excessiva interferência da EPA durante a gestão democrata com texto majoritariamente escrito por advogados da petrolífera Devon Energy.

2. Dois oleodutos e duas canetadas

Em seu segundo dia de trabalho, Trump expediu duas ordens executivas para acelerar a construção de dois oleodutos no país, o Keystone XL e o Dakota Access. Agora, são precisos apenas alguns trâmites burocráticos para que a decisão comece a ser efetivada.

As construções dos oleodutos foram interrompidas nos últimos dois anos após preocupações com seus impactos ambientais e às comunidades indígenas. A Dakota Access, por exemplo, passaria por terras sagradas para os povos tradicionais e por reservas hídricas importantes, como o Rio Missouri. 64745204_Native Americans lead demonstrators as they march to the Federal Building in protest agains.jpg

3. ‘Página não encontrada’

Também nas primeiras horas de governo, o site da Casa Branca mudou radicalmente. Tópicos sobre mudanças climáticas foram substituídos pelo plano energético do republicano, que afirma: “Durante muito tempo, fomos freados por regulamentos onerosos em nossa indústria de energia. O presidente Trump está comprometido com a eliminação de políticas nocivas e desnecessárias, como o Plano de Ação Climática”. Mesmo assim, o texto ratifica o compromisso do novo governo com a proteção das águas e do ar no país.

Segundo a agência Reuters, no final de janeiro, fontes informaram que o governo de Trump instruiu que empregados da EPA retirassem do ar tópicos sobre as mudanças climáticas do site do órgão. Atualmente, o site está disponível ? mas uma colaboração entre cientistas e analistas de dados, através do grupo Environmental Data and Governance Initiative (“Iniciativa para Governança e Dados Ambientais”), tem monitorado mudanças constantes nas páginas da agência e reunido informações que podem sair do ar a qualquer momento. 64672460_Environmental activists take part in a protest while Myron Ebell who leads US President.jpg

4. Um gabinete com energia

Trump está formando um gabinete que, no mínimo, poderá alterar fortemente a política energética do país. Seu vice-presidente, Mike Pence, é um conhecido defensor do carvão ? emissor de gases do efeito estufa ?, tendo publicamente refutado o Plano de Energia Limpa de Obama quando governador do estado de Indiana.

O secretário de Estado, Rex Tillerson, foi ex-diretor da petroleira ExxonMobil e afirmou, em 2012, que os seres humanos conseguiriam se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. Apesar de ter reconhecido, em sabatina recente no Senado, a existência do aquecimento global, Tillerson se demonstrou cético sobre a “habilidade humana para prever” seu real impacto.

64658543_FILE - In this Jan 19 2017 file photo Energy Secretary-designate former Texas Gov Rick Perr.jpgAguardando a aprovação no Senado, o indicado para o Departamento de Energia e ex-governador do Texas (um estado produtor de petróleo), Rick Perry ? que inclusive já pediu a extinção do próprio departamento que poderá comandar ?, disse em 2011 que as mudanças climáticas são apenas uma “teoria que permanece não comprovada” e que os cientistas têm “manipulado dados para manter o dinheiro entrando”.

Em janeiro deste ano, porém, ele amenizou seu discurso, defendendo que a contenção ao aquecimento global não comprometa o acesso dos americanos ao emprego e o crescimento da economia.