Cotidiano

Nome da nova operação da Lava-Jato, Omertà faz referência à máfia italiana

61796391_FILES This file photo taken on June 7 2011 shows former Brazilian M.jpgRIO ? A 35ª fase da Operação Lava-Jato, que prendeu temporariamente o ex-ministro Antonio Palocci na manhã desta segunda-feira, foi batizada pela Polícia Federal como ?Omertà?, em uma referência tanto ao ex-ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva, como ao código de silêncio da máfia italiana. Segundo a PF, Palocci aparece sob o codinome ?italiano? em planilhas que indicam propinas pagas pela Odebrecht a políticos.

?Omertà? é uma palavra de origem napolitana usada para se referir ao código de honra adotado pela máfia italiana. Unidas por um forte sentimento de família, as organizações criminosas da Itália conseguiram se manter fora do alcance da Justiça por muito tempo graças ao voto de silêncio, que impedia integrantes presos de cooperar com autoridades policiais.

Com grande inspiração na operação Mãos Limpas, que investigou as relações entre políticos e mafiosos na Itália, o juiz Sérgio Moro já chegou a se referir à omertà em diversas ocasiões.

Em julho do ano passado, ao criticar as declarações da ex-presidente Dilma Rousseff que comparavam delatores da Lava-Jato a Joaquim Silvério dos Reis, traidor da Inconfidência Mineira, o juiz usou o termo em um ofício que justificava a prisão preventiva do executivo Marcelo Odebrecht:

?Na Operação Lava -Jato, não se tem por objeto um crime único, isolado no tempo e espaço, mas, infelizmente, segundo as provas, em cognição sumária, já colhidas, um esquema criminoso prolongado e persistente, ilustrado por prejuízos já reconhecidos pela Petrobras de mais de seis bilhões de reais. Diante da dimensão dos fatos, o número de criminosos colaboradores é, em realidade, pouco expressivo, sendo provavelmente explicado pela crença equivocada na omertà e na impunidade?, escreveu Moro. Ele voltaria a falar em omertà na condenação do empreiteiro, em março deste ano.

Durante a coletiva da Força-Tarefa da Lava-Jato na manhã desta segunda-feira, o delegado Filipe Hille Pace também se referiu ao termo, dizendo que a secretária Maria Lúcia Guimarães Tavares, presa na 23ª fase da operação, teve ?coragem de quebrar o silêncio? da Odebrecht, ao entregar as planilhas com as doações da empreiteira a políticos.

PLANILHA MOSTRA MOVIMENTAÇÃO DE R$ 200 MILHÕES

Palocci foi identificado como o ?italiano? das planilhas pela primeira vez pela publicitária Monica Moura, em uma tentativa de fechar acordo de delação premiada. Considerada uma das mais contundentes provas sobre o pagamento de propina a gentes políticos pela empreiteira, uma tabela nomeada “posição-italiano” foi encontrada na caixa de e-mail do ex-diretor da Odebrecht, Fernando Migliaccio no curso da Lava-Jato.

O documento traz um balanço de como foram repassados, entre 2008 e 2012, cerca de R$ 200 milhões a projetos como as eleições municipais de 2008, a disputa presidencial em El Salvador e valores pagos a JD, que a PF acredita ser Dirceu, e a João Santana.

A planilha termina indicando haver, em 2012, um saldo de R$ 79 milhões. A curto prazo, R$ 6 milhões estariam comprometidos com ?Itália? – referência a Palocci – e R$ 23 milhões com o ?amigo?, não identificado na tabela. Os demais R$ 50 milhões iriam para o ?pós-Itália?.

Outros dois assessores de Palocci também tiveram suas prisões temporárias confirmadas. São eles Juscelino Dourado, ex-chefe de gabinete do então ministro da Fazenda, e Branislav Kontic, que assessorou Palocci durante seu mandato parlamentar.