Cotidiano

Mistério de Hillary sobre pneumonia eleva pressão sobre candidatos

2016 938119237-201609111913262469_AFP.jpg_20160911.jpgWASHINGTON – Problemas de saúde tendem a gerar empatia, mas parece que não para Hillary Clinton. A pneumonia da candidata democrata, diagnosticada na sexta-feira mas divulgada apenas no domingo ? após a ex-secretária de Estado passar mal num evento em Nova York ? ampliou as incertezas e pode afetar ainda mais sua credibilidade. A falta de clareza com que o o caso foi tratado gerou até um pedido de desculpas da campanha, e pode reforçar a visão da maioria dos americanos de que ela não é confiável. No fim do dia, a candidata admitiu que sentiu um ?mal-estar? e perdeu o equilíbrio, mas negou ter desmaiado.

? Uma vez que entrei (em um carro), pude me sentar, sair do calor e beber água, imediatamente me senti melhor ? disse à CNN, ressaltando que volta a trabalhar em dois dias.

O episódio lança luz sobre a necessidade de mais informações sobre a saúde dos candidatos e indica que há falta de transparência em ambos os lados. Hillary sofre por suas relações complexas entre público e privado quando era secretária de Estado e pelo uso de e-mails pessoais para tratar de temas sigilosos. Trump, por sua vez, é acusado de ter tentado esconder os processos que os alunos da Universidade Trump movem e por, até agora, não ter divulgado sua declaração de Imposto de Renda, praxe entre os americanos.

?Antibióticos podem cuidar de pneumonia. Qual é a cura para uma tendência nada saudável para a busca repetida por uma privacidade que cria problemas desnecessários??, escreveu no Twitter David Axelrod, ex-estrategista de campanha de Barack Obama.

2016 938074424-201609111601215755_RTS.jpg_20160911.jpgAs duas campanhas prometeram mais detalhes sobre a situação de saúde dos candidatos. Ela tem 68 anos e, Trump, 70. Mas, para Hillary, pesa o fato de, no domingo, ter aparecido em público depois de ter passado mal e ter dito que ?se sentia ótima?.

?Poderíamos ter feito melhor, mas é fato que o público sabe mais sobre Hillary do que sobre qualquer outro candidato na História?, escreveu Jennifer Palmieri, assessora da equipe de imprensa da campanha, no Twitter. ?Olhando em retrospecto, poderíamos ter lidado melhor, fornecendo mais informações. Lamentamos?, acrescentou o secretário da campanha, Brian Fallon.

A falta de transparência serviu de combustível inclusive para boatos: durante o dia surgiram histórias de que o estado de saúde dela era tão ruim que Hillary poderia ter que abandonar a disputa. Algumas redes sociais diziam que havia uma ?epidemia? de pneumonia na campanha da democrata ? algo que foi refutado, com o argumento de que a doença sequer é contagiosa ? e que, na verdade, ela sofria de problemas muito piores. Tumor cerebral, Parkinson ou demência eram alguns dos listados. Outros afirmavam que ela não estava ?totalmente curada? dos três casos de coágulos que já teve, o último em 2012.

?A razão para esse ceticismo é simples: Eles disseram o mínimo possível sobre a saúde de Hillary, e o que eles têm dito por vezes tem sido enganoso?, escreveu Alexis Simendinger, no site ?Realclearpolitics?. ?Isso é o que acontece quando você perde a sua credibilidade. Mesmo respostas verdadeiras são recebidos com ceticismo?.

Mais cedo, Hillary tentou acalmar os eleitores pelo Twitter: ?Obrigada a todos os que me desejaram coisas boas. Estou me sentido cada vez melhor. Como qualquer um que já esteve doente em casa, estou apenas ansiosa para voltar ao trabalho. Espero encontrá-los em breve?.

Trump sugere debate sem mediadores

Ainda não há pesquisas que meçam o impacto do episódio na disputa, numa eleição que parece, cada vez mais, disputada voto a voto. Mas, segundo a agência Reuters, os mercados de aposta reduziram em sete pontos as probabilidades de que ela vença em novembro após o episódio. Agora, teria 64% de chances de chegar à Casa Branca, segundo o PredictIt, mercado de prognósticos online.

Trump, num tom amigável, diferentemente do que vem usando com a adversária ? ele já levantara dúvidas sobre as condições da rival para ser presidente ? desejou melhoras:

? Espero que ela fique bem e volte aos trilhos, e iremos vê-la no debate ? disse à Fox News.

Mas não foi desculpa para Trump minimizar os ataques à oponente. Afirmou que Hillary foi ?deplorável? com grande parte dos apoiadores dele, ao classificá-los como pessoas que têm opiniões equivocadas ? com atitudes racistas ou preconceituosas com os gays.

? Fiquei profundamente chocado e alarmado ao ouvir o ataque da minha adversária: calúnia, difamação, rebaixar essas pessoas maravilhosas. São milhões de famílias da classe trabalhadora que só querem um futuro melhor e um bom trabalho.

Trump ainda fez mais uma proposta polêmica: sugeriu que os debates sejam sem mediadores, pois ele acredita que os jornalistas e apresentadores que fazem esta função ?certamente tentarão prejudicá-lo?. O primeiro debate está marcado para o dia 26, em Nova York.