Cotidiano

Ministério da Justiça, a difícil escolha de Temer

BRASÍLIA – O presidente Michel Temer parece viver uma sensação de dejà vú pela dificuldade que enfrenta para nomear um ministro da Justiça. Em maio do ano passado, quando assumiu interinamente o comando do país com o afastamento de Dilma Rousseff, que enfrentava o processo de impeachment, o peemedebista bateu na porta de alguns juristas e notáveis. Entre recusas e frituras pela opinião pública, Temer escolheu Alexandre de Moraes. Não foi segredo há nove meses, que o então tucano e ex-secretário de Segurança de Geraldo Alckmin (SP) era a ?terceira ou quarta opção?, de Temer como confidenciou um ministro do núcleo político.

Antes de Moraes, o presidente tentou nomear o advogado Antonio Claudio Mariz, os ex-ministro do STF Nelson Jobim, Ellen Gracie e Carlos Ayres, entre outros nomes cotados na época para a pasta.

Esta situação se reprisa agora, após ressurgirem os nomes de Mariz e Ayres Britto, além do convite oficial e recusado pelo ex-ministro do STF Carlos Veloso para o cargo.

Se no ano passado, em meio ao desgaste da gestão de Dilma e à perspectiva de um ?novo governo? Temer enfrentou dificuldades, agora, cresceu o ônus para quem aceitar comandar o Ministério da Justiça.

Confira a lista:

– A segurança pública vive grave crise com rebeliões em presídios, greves e paralisações de policiais;

– As delações de executivos da Odebrecht relacionadas à Lava-Jato foram homologadas e é questão de tempo que se tornem públicas. A expectativa é que afetem dezenas de políticos, alguns, que poderiam acabar sendo indicados para o cargo, o que causaria mais um foco de desgaste a Temer;

– Há espírito crítico com a indicação que será feita por Temer pelas ligações partidárias de alguns cotados. Em meio à descrença com a política e na esteira da Lava-Jato, preocupa que o indicado poderá influenciar de forma negativa, tentando restringir a operação;

– Temer não tem conseguido convencer juristas ?a la Veloso?, como auxiliares presidenciais têm tratado a indicação, alguns porque não querem voltar à vida pública, ou porque querem manter seus escritórios, ou por conselho da famíliaou, até mesmo, por questão salarial. Um ministro do Executivo ganha R$ 30, 9 mil, salário menor do que o de um ex-ministro de tribunal superior que atenda na iniciativa privada;

– Cotados avaliam como mais difícil fazer um bom trabalho em apenas um ano e dez meses, que é o período que resta ao governo Temer;

– Perfil de Temer mescla mundo jurídico com político. Conhece muita gente de ambos. Costuma receber e ouvir gente. Não é de tomar decisões sem antes testar balões de ensaio e repercussões, o que torna decisões mais demoradas;

– Temer busca algum nome que tenha boa interlocução com Congresso e mundo jurídico;

– O presidente enfrenta muita pressão de sua base parlamentar, que quer influenciar ou, se puder, decidir, o nome do ministro.

– Até mesmo questões regionais estão envolvidas: Deputados de Minas Gerais reclamam que um dos maiores estados do país não tem um representante no ministério de Temer.