Cotidiano

Meio-irmão do líder norte-coreano vivia com medo e paranoia, relata amigo

Malaysia North Korea

RIO ? O meio-irmão do líder norte-coreano Kim Jong-un passou os últimos anos de sua vida sofrendo de paranoia enquanto se escondia do regime comandado pela sua família. De acordo com uma fonte próxima a Kim Jong-nam, ele se sentia ameaçado pelo irmão e temia por sua segurança, mesmo vivendo no exílio há anos. Quem o conhecia dizia que Kim Jong-nam se sentia impotente em relação ao destino da Coreia do Norte. Ele foi assassinado na semana passada enquanto esperava por um voo no aeroporto internacional de Kuala Lumpur, na Malásia, e autoridades do país disseram, nesta terça-feira, que a causa da morte ainda não foi identificada mesmo após a realização de uma autópsia.

Um confidente do meio-irmão do líder norte-coreano disse, em entrevista ao jornal inglês ?The Guardian?, que a visão mais aberta e a personalidade de Kim Jong-nam o levaram ao exílio e, possivelmente, causaram sua morte. Em diversas viagens a Genebra, na Suíça, nos últimos dois anos, Kim visitou Anthony Sahakian, antigo amigo que conheceu em um escola de prestígio no país europeu. Durante as visitas, os dois ex-colegas de turma se encontravam quase diariamente para tomar um café e passear.

Conhecido simplesmente como ?Lee? por Sahakian, Kim Jong-nam vivia com a ideia de que seu meio- irmão mais novo, Kim Jong-un, o via como uma ameaça contra o regime autoritário. Como primogênito, Jong-nam chegou a ser considerado um potencial herdeiro do governo norte-coreano, mas caiu em desgraça em 2001, quando tentou, sem sucesso, viajar ao Japão com um passaporte falso, sob a alegação de que desejava visitar a Disneyland.

? Nós discutiamos sobre o regime, seu meio- irmão e o que acontecia lá (na Coreia do Norte). O que posso dizer é que Kim Jong-nam nunca esteve interessado no poder ? disse Sahakian, de 44 anos. ? Ele não queria essa responsabilidade, nunca teve a ambição de governar o país. Não aceitava nem gostava do que acontecia lá. Ele mantinha uma distância do regime.

A autópsia do corpo de Kim Jong-nam ainda não apontou as causas da morte. De acordo com autoridades da Malásia, não foram detectados sinais de ataque cardíaco nem de perfurações de agulhas no norte-coreano ? a principal suspeita é que duas mulheres tenham envenenado Kim Jong-nam com agulhas. Testes ainda estão sendo feitos para determinar se Jong-nam foi ou não envenenado. O governo da Malásia informou que só entregará o corpo de Kim Jong-nam a Pyongyang quando o processo estiver concluído.

A Malásia pediu a parentes de Jong-nam que reivindicassem o corpo e ajudassem com o inquérito, o que provocou uma rixa diplomática com a Coreia do Norte, cujas autoridades querem que o corpo seja entregue diretamente. Kuala Lumpur convocou seu enviado em Pyongyang depois que o embaixador norte-coreano na capital malaia questionou a imparcialidade da investigação da Malásia.

Na segunda-feira, o embaixador norte-coreano, Kang Chol, disse que seu país “não pode confiar” na maneira como a Malásia está investigando o assassinato. Respondendo nesta terça-feira, o premier malaio, Najib Razak, repudiou os comentários do diplomata e reiterou que a investigação será justa.

? A declaração do embaixador foi totalmente desnecessária. Foi diplomaticamente grosseira. Mas a Malásia irá ficar firme ? disse Najib.

Autoridades da Coreia do Sul e dos Estados Unidos acreditam que o Kim Jong-nam foi morto por agentes norte-coreanos. Até o momento, quatro pessoas foram presas suspeitas de envolvimento no caso. No sábado, um homem de nacionalidade norte-coreana foi detido por policiais da Malásia.