Cotidiano

Manifestações para lembrar 43 anos de golpe chileno acabam com 49 detidos

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SANTIAGO ? No Chile, as manifestações de domingo para recordar os 43 anos do golpe de Estado que instaurou a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) terminaram com sete policiais feridos e 49 pessoas detidas. Barricadas, enfrentamentos e cortes de luz nos bairros da periferia de Santiago se replicaram pela região desde a madrugada até as primeiras horas desta segunda-feira. Mas o governo destacou que, ainda assim, os episódios de violência se reduziram à metade em comparação ao ano passado.

? A situação deste dia 11 foi menos intensa do que a anterior ? comentou o subsecretário do Interior, Mahmud Aleuy. ? Quem dispara durante a noite não são pessoas que estão relembrando um fato, são pessoas que produzem fatos criminosos.

Um dos policiais feridos foi atingido por uma bala na perna, mas está fora de perigo. No domingo, ruas do centro de Santiago amanheceram cercadas e com uma quantidade de policiais maior do que o habitual para assegurar a ordem durante a manifestação que percorreria vários quilômetros da capital. Também houve eventos em outras cidades do país.

Na marcha, fotos de centenas de desaparecidos, milhares de bandeiras e enormes cartazes clamando pelo fechamento de Punta Peuco eram carregados ao ritmo de tambores. Indivíduos mascarados tentaram invadir dois bancos da zona central da cidade, de acordo com a imprensa local. O grupo teria atacado um jornalista e um cinegrafista do canal local TVN.

Aos distúrbios provocados por alguns manifestantes, a Polícia reagiu com gás lacrimogêneo. Também acabaram atingidas as pessoas que buscavam, pacificamente, entrar no Cemitério para depositar flores aos seus entes queridos. Dentre elas, estavam muitas famílias com crianças.

? Temos o direito de comemorar, de recordar do nosso povo, dos nossos feridos e dos mortos. Mas isso não significa que tenhamos de fazer isso com destruição, com violência e causando danos a terceiros. Isso é repudiável ? declarou o ministro porta-voz do governo, Marcelo Díaz.

Organizações civis e o Partido Comunista condenaram a atuação desproporcional da Polícia. Eles argumentam que, por causa de alguns poucos elementos, milhares de manifestantes que marchavam de forma pacífica tiveram de suportar as bombas de efeito moral lançadas pelos agentes.

?NUNCA MAIS VOLTARÁ A ACONTECER?

A presidente chilena, Michelle Bachelet, liderou o primeiro ato oficial do dia no Palácio La Moneda.

? Hoje, o Chile recorda o que ocorreu há 43 anos, aquilo que nunca mais voltará a acontecer, porque temos uma certeza irrenunciável de que enquanto a luz da memória continuar viva, ninguém estará vencido, e ninguém estará esquecido ? disse, no evento, a presidente.

Logo após o fim do discurso de Bachelet, teve início uma marcha multitudinária. Depois de percorrer vários quilômetros, a passeata chegou ao Cemitério Geral de Santiago. Lá, familiares de desaparecidos, acompanhados de milhares de chilenos, prestaram uma homenagem aos mais de 3,2 mil mortos deixados pelo regime.

? Tenho 64 anos e todo ano venho para lembrar dos que morreram para que isso nunca mais volte a acontecer no Chile ? afirmou Sonia Zurita. ? Sempre esperando que, algum dia, se faça verdade e justiça, que tudo saia à luz e se condene os culpados.

Desta vez, os pedidos por justiça focaram nos apelos pelo fechamento do Presídio Punta Peuco, onde estão cerca de 100 ex-membros das Forças Armadas condenados por sequestro, tortura e assassinatos durante a ditadura. Organizações de direitos humanos e familiares das vítimas denunciam que, nessa instituição, os antigos repressores têm grandes privilégios e vivem em um luxo considerado impensável para presos comuns. Punta Peuco se tornou símbolo dos privilégios mantidos pelos militares no Chile.