Cotidiano

Maestro John Neschling diz que vai depor em CPI do Municipal de SP

SÃO PAULO – Diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo, o maestro John Neschling confirmou, por meio de sua assessoria, que irá depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada pela Câmara Municipal, que investiga um esquema de desvio de dinheiro público na instituição. Neschling teve o sigilo de seus e-mails quebrado pela Justiça, o que pode ser fundamental tanto para as investigações parlamentares, que são públicas, quanto no Ministério Público do Estado, que progridem sob segredo.

Investigações da Controladoria Geral do Município (CGM) feitas em parceria com o MP apontaram um rombo de cerca de R$ 15 milhões nas contas do Teatro Municipal, devido a desvios, má administração e nepotismo nas gestões da Fundação Theatro Municipal e da organização social Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC). Como resultado, os então diretores da fundação, José Luiz Herencia, e do IBGC, William Nacked, foram afastados.

Sobre Neschling paira a suspeita de estar envolvido no superfaturamento da contratação de espetáculos com o produtor argentino Valentin Proczynski, que também representa o maestro no exterior. De acordo com o relatório da CGM, Proczynski fechou dois contratos com o Theatro, um para o espetáculo “Alma brasileira”, pelo qual houve pagamentos de R$ 1 milhão, e outro de uma apresentação do grupo Fura dels bals. Este último foi apresentado em julho. O diretor do grupo catalão, Carlus Padrissa, prestou depoimento ao MP dizendo que o empresário argentino teria cobrado do teatro um valor maior do que o autorizado.

O secretário de comunicação da Prefeitura, jornalista Nunzio Briguglio, também está sendo investigado. Ele teria, segundo as investigações, influenciado na contratação de espetáculos.

No primeiro ato de campanha pelas eleições para a Prefeitura de São Paulo, na Zona Sul da capital paulista, Fernando Haddad disse que tem plena confiança no CGM e aguarda relatório do órgão:

— Eu já afastei duas pessoas (José Luiz Herencia e William Nacked) porque tive a convicção de que erraram, e ficou provado que erraram mesmo. Tanto que estão com os bens bloqueados, com recursos que serão devolvidos ao município, reparando mal que fizeram. Sobre os outros dois (John Neschling e Nunzio Briguglio) que estão prestando esclarecimentos, a controladoria não formou juízo definitivo. Eles pediram mais tempo para me orientar sobre o que fazer. Vou seguir exatamente o que controladoria determina. Isso está sendo feito em parceria com o Ministério Público. Temos um órgão, ou confiamos no órgão técnico ou vamos ficar a mercê das nossas opiniões pessoais. Quando eu demiti o Herencia e e intervimos na fundação afastando o William Nacked, essas duas decisões foram tomadas com base nos relatórios técnicos da controladoria.

Em um comunicado divulgado por meio de sua assessoria, intitulado “Caça às bruxas”, Neschling reclama da exposição de seu nome nas reportagens sobre o caso e diz que não praticou “nenhum ato ilícito ou que tenha causado prejuízo ao erário”. O texto destaca também que foi ele “quem denunciou esse esquema corrupto e criminoso ao Prefeito, à Secretaria de Cultura e demais órgãos da Prefeitura”. E conclui: “Amanhã (quarta-feira), vou depor na CPI, com a tranquilidade de quem tem a consciência limpa e com o espírito de colaborar para o afastamento das mentiras lançadas, a fim de que os culpados sejam punidos, e não premiados. Quem sabe, amanhã, possa a ficção ceder, enfim, espaço à realidade.”