Cotidiano

Lobista da ?Máfia da Merenda? confirma atuação de ex-assessores do presidente da Alesp

SÃO PAULO – Apontado como principal nome da ?Máfia da Merenda?, em São Paulo, o lobista Marcel Ferreira Julio confirmou o envolvimento no caso dos ex-assessores do presidente da Assembleia Legislativa da capital, Fernando Capez (PSDB), e disse ter mais ?gente com poder? na fraude. Ele compareceu à CPI que investiga a denúncia nesta terça-feira, na Alesp, mas deixou de responder a maioria das perguntas. Segundo sua defesa, Marcel nega a participação de Capez no esquema, em nova delação.

Marcel seria o elo de ligação entre a Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), suspeita de ter fraudado a venda de suco para a merenda em São Paulo, e o governo estadual.

O lobista não respondeu a todos os questionamentos da CPI, mas de acordo como o deputado Alencar Santana Braga (PT), ele chegou a comentar ?três ou quatro perguntas?.

? Ele disse que não era o único iluminado (mandante) do caso e falou no Jeter (Rodrigues) e no Merivaldo (José Merivaldo dos Santos) ? descreveu Braga, citando os ex-assessores de Capez.

Marcel teria contado ainda que Jeter ameaçou prejudicar o contrato caso não houvesse pagamento de propina.

? Quando a gente ia avançar no depoimento, alguns deputados, além do advogado dele, não deixaram prosseguir, mas o Marcel disse que tinha mais gente, e gente com poder, envolvida ? finalizou o petista.

A defesa de Marcel, José Adriano de Oliveira, confirmou ao GLOBO que seu cliente recebia ameaças de Jeter, mas deu poucos detalhes.

? Marcel colaborou com o Ministério Público em entregar provas e depoimentos. Se começar a dar detalhes, vou prejudicar meu cliente, mas havia telefonemas nesse sentido. Eles foram gravados e fazem parte das provas ? explicou Oliveira.

O advogado negou também que Marcel tenha acusado o presidente da Alesp, Fernando Capez, de pedir dinheiro de propina.

Segundo Oliveira, no primeiro depoimento, em abril deste ano, Marcel disse que Capez chegou, durante um encontro para tratar da propina, a esfregar o indicador e o polegar da mão e, rindo, disse: ?Não esquece de mim, hein, estou sofrendo em campanha!?, deixando, segundo o delator, claro que o presidente da Alesp queria dinheiro.

? Esse gesto do Capez foi feito publicamente, num ambiente de 15 pessoas, rindo e brincando. Ele, como promotor de justiça, deputado e juiz, não vai cometer um ato ilícito na frente de 15 pessoas, e dando risada. É um absurdo ? apontou Oliveira, para justificar em seguida o que motivou Marcel a falar o nome de Capez.

? Ele tinha acabado de ser preso, estava sob efeito de calmantes e diante de um monte de policial, promotor, delegado e investigador. E ele mencionou que não sabia se aquilo era pedido de dinheiro ou brincadeira, mas a policia colocou lá que era pedido de dinheiro. Agora, no novo depoimento, ele se corrigiu e explicou que o gesto era brincadeira.