Cotidiano

Lava-Jato: Lobão diz não ter constrangimentos e que dorme tranquilo

BRASÍLIA – O senador Edison Lobão (PMDB-MA), que foi aclamado dentro da bancada do PMDB para ser o nome do partido a presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), disse nesta quarta-feira que não causa “constrangimento” o fato de ser investigado na Lava-Jato. Lobão disse que a investigação não deve “molestar a ninguém” e que é uma oportunidade de se defender de “alegações caluniosas”.

Integrante do grupo do ex-senador José Sarney, Lobão disse que é amigo de Raimundo Lira (PMDB-PB), que ficou irritado com a gestão do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em favor de sua escolha. O Palácio do Planalto já fez chegar a Lobão que ficou contente com a decisão. A instalação da CCJ pode ficar para amanhã.

Lobão ainda precisa ser eleito presidente da CCJ. O PMDB tem direito a indicar o nome para a Presidência como maior bancada da Casa, com 21 senadores. Renan sinalizou que as indicações poderão ficar para quinta-feira, atrasando a instalação do colegiado. Assim que for instalada, Lobão escolherá o relator do caso de Alexandre de Moraes.

? A instalação da CCJ ocorrerá hoje ou amanhã ? disse o presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), no plenário.

Lobão ressaltou que dois inquéritos contra ele no âmbito da Lava-Jato foram arquivados por solicitação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Ao ser perguntado pela primeira vez sobre as acusações, Lobão reagiu:

? O que tem a ver com essa coisa (da CCJ)? Os dois primeiros inquéritos foram arquivados, a pedido do procurador-geral da República, da Polícia Federal e por decisão do ministro Teori Zavascki. Os inquéritos que pertenciam à Lava-Jato e que diziam respeito à Petrobras. A investigação não deve causar constrangimento a ninguém. É uma forma inclusive de o alegado poder demonstrar que não é responsável por tais alegações caluniosas e etc. É o que aconteceu com os dois arquivados.

Depois, Lobão complementou:

? A investigação não deve molestar a ninguém, não molesta a mim. Se houve alegação contra mim uma caluniosa, é bom que seja investigado para que eu possa demonstrar que não passa de uma calúnia. É o que já ocorreu com os dois inquéritos que foram abertos, nas duas primeiras investigações. Arquivado por falta absoluta de procedência.

Lobão diz ainda que não está preocupado.

? Sempre dormi tranquilo, Graças a Deus ? disse ele.

Na prática, a decisão do PMDB mostra a força que o grupo de José Sarney dentro do Senado. Mostra ainda a força de Renan como comandante da bancada, numa disputa de poder com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), que quando era ainda líder tinha preferência por Raimundo Lira.

Lobão foi ministro de Minas e Energia e é experiente no Senado.

BRIGA E CARTAS MARCADAS

As reuniões foram tensas até o final. Mas, no PMDB, o ditado é que ao final todos compõem para preservar o poder. Por isso, Renan conversou já na noite de terça-feira com Eunício sobre o fato de Lobão ter maioria na bancada. Além de ser do grupo de Sarney, Lobão é senador titular e com vários mandatos, e Raimundo Lira é suplente _ assumindo no lugar de Vital do Rêgo – e já ganhou notoriedade como presidente da comissão do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Renan já havia irritado a bancada com a escolha dos senadores para a Mesa. Por isso, manteve o discurso de que tentaria o consenso até o final.

Mas o senador Raimundo Lira já entrou na reunião sabendo da situação. Tanto que disse que não disputaria dentro da bancada, apenas diretamente na CCJ. Mas, para isso, ele teria que ser indicado para a CCJ, o que não foi.

Para não sair totalmente derrotado, Raimundo Lira assumiu o discurso de dizer que pediu a Renan para não ser indicado para a CCJ.

? A situação teve influências externas ? disse Raimundo Lira.

Perguntado se seria do ex-senador Sarney, ele respondeu:

? Você que está dizendo.