Cotidiano

Laura Simão, consultora e professora:?O design, quando é bom, é invisível?

?Tenho 36 anos, nasci em Cuiabá. Comecei a vida caçando cachoeiras. Há 15 anos, deixei tudo e fui para os EUA. Sou consultora na área de design de negócios e desenvolvimento estratégico e educadora. Vivo em New Jersey, com vista para Manhattan. Sou graduada em economia política. Leciono na Parsons School of Design.?

Conte algo que não sei.

O design thinking é a chave de transformação humana e de negócios. Uma das vertentes do mundo é a ideia de usar o design como veículo de transformação de líderes de negócios. Você não consegue mudar os negócios se não transformar primeiro as pessoas que estão na liderança. Tenho como missão transformar a mentalidade dos líderes empresariais para que vejam os negócios com as lentes do design.

Uma brasileira morando fora e que veio do mundo dos negócios para o design?

Sou de todo lugar mas não sou de lugar algum. Quando você atua como ponte entre o lado criativo, o designer, e o lado business, analítico e funcional, este lugar se chama design thinking, que surgiu desde que o mundo é mundo, mas o termo é específico de uma era, sobretudo após a evolução do design nos anos 80, quando Steve Jobs contratou uma consultoria chamada Ideal, no Vale do Silício, para desenvolver produtos para a Apple. Criaram este termo para definir uma forma de pensamento que agrega metodologias, abordagens do design para resolver problemas de negócios, entender necessidades dos usuários.

Esta abordagem evoluiu, assim como a exigência do consumidor.

Antes do iPad existiam tablets. A diferença é o designer que tornou a coisa de bom gosto. O design, quando é bom, é invisível.

A alma do design é fazer muito com pouco. Estamos preparados viver assim?

A necessidade cria as condições. E cabe ao líder propor uma forma de consumo mais inteligente e, portanto, minimalista. Um lado é mais estético e o outro é o caminho natural, o da humanidade, que está sendo guiada para o escasso, resolver os problemas com menos recursos.

Como estes conceitos são discutidos aqui e na Europa?

No Norte da Europa, o design thinking é mais voltado à vida das pessoas. Uma empresa de móveis da Dinamarca, por exemplo, é uma experiência. Você tem sua casa toda planejada lá dentro. Já nos EUA, o que puxa o tema é a tecnologia, as ideias que vão ao encontro das mídias sociais. No Brasil, tudo isto é muito novo, as pessoas ainda não entendem o termo design thinking.

Para o cineasta Charles Burnette, design thinking é o processo de pensamento crítico que permite organizar informações e ideias, tomar decisões, aprimorar situações e adquirir conhecimento. Esta é a demanda do mundo contemporâneo?

Design e negócios são linguagens. A linguagem no futuro será fundamental, tudo o que você fizer será por meio de um robô: pegar um carro, tomar um sorvete. Um dos diferenciais de qualquer profissional será se autoprogramar. Muitas carreiras não vão existir.

Como será a comunicação no futuro?

Telepática. Você vai comprar um bilhete de cinema e não vai saber se está falando com um ser humano. Será possível redesenhar o cérebro. Em 2050 estaremos em outro nível de evolução.

Um futurista brasileiro definiu o futuro como tecnologias exponenciais.

O termo é de um futurista americano que criou uma universidade no Vale do Silício em parceria com a Nasa e o Google. Lá, estudam como a tecnologia terá uma evolução exponencial. O telefone que está gravando esta entrevista é mais poderoso do que o computador mais poderoso no início da década de 90.