Cotidiano

Irmão de Lahouaiej-Bouhlel diz duvidar de que ele seja o autor dos ataques em Nice

PARIS – 'Por que meu irmão faria uma coisa dessas'?. Esta é a pergunta que Jabeur, irmão do tunisino Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, fez a um jornalista da agência Reuters quando perguntado sobre o ataque que deixou 84 mortos em Nice na noite de quinta-feira. Ele duvida que o irmão, de 31 anos, seja o responsável.

– Estamos ligando para ele desde ontem, mas ele não está respondendo – disse.

Outro familiar, o sobrinho Ibrahim, contou que o tio ligou três dias antes do atetando, dizendo que estava preparando uma viagem para participar de uma festa de família.

Tanto para os parentes quanto para os vizinhos de Bouhlel em Mskaen, subúrbio de Sousse (Tunísia), onde nasceu, ele era visto como um esportista e não mostrava sinais de que fosse radical, inclusive quando voltou da festa de casamento de uma irmã há quatro anos.

Nesta sexta-feira, o procurador de Paris, François Molins, afirmou que Bouhlel “nunca foi alvo de qualquer registro policial por radicalização”. Porém, “era conhecido da polícia e da justiça por ameaças, violência, roubo e vandalismo em atos cometidos entre 2010 e 2016”, contiinuou o procurador .

Em 24 de março, ele foi condenado a seis meses de prisão com sursis por “violência voluntária com arma” cometida em janeiro, durante uma briga após um acidente de trânsito, segundo um comunicado do ministro da Justiça.

O tunisino é descrito por seus antigos vizinhos como um homem calado, violento com a sua ex-esposa e que não manifestava sua religião publicamente. Nascido em 31 de janeiro de 1985, ele se casou com uma franco-tunisiana de Nice e era pai de três filhos, incluindo um bebê. De acordo com testemunhos recolhidos pela Agencia France Press, o casal vestia roupas ocidentais.

Segundo o site do jornal Le Presse, da Tunísia, Bouhlel deixou o país rumo à França em 2005. Relatos de vários membros assíudos da Associação Religiosa de Nice Norte afirmam que ele nunca frequentou a pequena mesquita da localidade – onde vivia com a mulher antes de se separarem, e bebia cerveja.

– Ele não é fiel a Deus, eu nunca o vi na mesquita – afirmou um zelador do imóvel. Ao seu lado, três muçulmanos praticantes com longas barbas confirmam a informação.

Um morador do prédio “Le Bretagne”, onde Bouhlel morava até cerca de um ano e meio, classifica o tunisino de desequilibrado.

– Eu não acredito de maneira nenhuma na hipótese de radicalização. Prefiro pensar que se trata de um problema psiquiátrico – comentou. – Ele tinha crises. Quando se separou de sua esposa, defecou em todos os lugares, estraçalhou os ursinhos de pelúcia de sua filha e cortou o colchão. Sua mulher pediu o divórcio depois de uma discussão violenta. Um dia, ele chamou os vizinhos para que nós víssemos que ela não havia lavado a louça”.

O zelador do prédio, descreveu Bouhlel como um homem que praticava musculação e luta, “muito violento com sua esposa”, uma moça tímida e gentil. A jovem, que a polícia deteve nesta sexta-feira para interrogatório, tinha dado à luz seu terceiro filho após se divorciar do marido, de acordo com vários moradores.

Uma dúzia de vizinhos descreveram o tunisino como alguém “solitário” e “silencioso”. Um deles, Sébastien, contou que o via com frequência estacionar seu pequeno caminhão de entrega para almoçar em casa, geralmente vestindo shorts. Sua vizinha de porta, Alexia, disse ter falado com ele uma única vez. No andar de cima, uma família ressaltou que o jovem nunca retribuía seus cumprimentos.

Uma operação de busca foi realizada nesta sexta-feira em sua última residência, localizada em um pequeno prédio de quatro andares em um bairro popular do leste de Nice, onde morava sozinho desde a separação.

Segundo a Agência France Press, a porta do apartamento do primeiro andar foi arrombada, enquanto membros da polícia recolhiam pistas.