Saúde

Hospitais alegam falta do “Kit Intubação”, mas nem Sesa nem MS informam volume necessário nem data de chegada

A dificuldade para a compra permanece e os prazos de entrega informados pelos fornecedores chega a 30 dias

Hospitais alegam falta do “Kit Intubação”, mas nem Sesa nem MS informam volume necessário nem data de chegada

Cascavel – A falta de medicamentos necessários para a intubação de pacientes que tiveram complicações pela infecção do novo coronavírus, especialmente anestésicos e relaxantes musculares, continua sendo uma realidade nos hospitais da região oeste do Paraná.

Em Toledo, o Hospital Bom Jesus por vários dias seguidos teve lotação máxima de pacientes na UTI. Por conta da grande demanda, agora tem estoque apenas para uma semana, mesmo com envio de insumos da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde). De acordo com a administração hospitalar, a dificuldade para a compra permanece e os prazos de entrega informados pelos fornecedores chega a 30 dias.

No Hospital de Retaguarda, em Cascavel, a situação também é crítica. A unidade, aberta às pressas para atendimento exclusivo para covid-19, já precisou emprestar os medicamentos de hospitais públicos e privados, e ainda recebeu doses enviadas pela Sesa esta semana, suficientes para poucos dias.

O relato em todos os hospitais, públicos e privados, é a dificuldade em encontrar os produtos, que já tiveram o preço multiplicado em várias vezes.

Após várias cobranças, apenas no início da semana a falta dos medicamentos nos estoques e nos fornecedores foi reconhecida pelo governo estadual. O secretário de Saúde, Beto Preto, afirmou que o consumo de alguns medicamentos aumentou de 13% até 500% por conta da pandemia e que a compra vem sendo cada vez mais complicada e demorada.

 

Sem volume nem datas

Contudo, apesar de relatarem que o problema é nacional, nem Sesa nem Ministério da Saúde informa qual é o volume necessário para equilibrar os estoques do Paraná, tampouco falam em data de entrega. Um mistério que ninguém se importa em esclarecer.

A Sesa informou que os analgésicos, sedativos e bloqueadores neuromusculares utilizados na intubação de pacientes são adquiridos rotineiramente por todos os hospitais para atendimento aos internados em UTI. E que faz aquisição desses medicamentos para atendimento da sua rede própria (14 hospitais), mas o volume não foi informado.

Ressaltou ainda que o risco de desabastecimento está ocorrendo em todo o País em função do aumento do consumo e da dificuldade de importação de matéria-prima para a fabricação desses medicamentos no mercado nacional.

A pedido do Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), a Sesa fez um levantamento do consumo médio mensal e do estoque nos hospitais do plano de contingência no Paraná. Esse levantamento foi encaminhado para o Ministério da Saúde para uma compra emergencial para abastecimento prioritário dos estados que se encontravam com estoque zerado. A reportagem solicitou os dados desse levantamento, mas a secretaria não os forneceu.

O Ministério da Saúde informou que “está apoiando estados e municípios, em ação conjunta e coordenada com o Conass e o Conasems [Conselho de Secretarias Municipais de Saúde], para normalizar o mais breve possível os estoques de anestésicos e relaxantes musculares nos hospitais”.

E não é por falta de informação que esses números não são tornados públicos. O próprio Ministério da Saúde informou que, diante do panorama emergencial, tem realizado diariamente levantamento nos estados e nos municípios para atender emergencialmente as necessidades de todas as localidades.

Para a aquisição desses medicamentos, a pasta implementou três ações para mitigar o problema. A primeira foi uma cotação para realizar compra internacional, via Opas (Organização Pan-Americana da Saúde).

A segunda foi uma requisição administrativa, que já está possibilitando o atendimento emergencial das demandas. Até o momento, foram requisitados 21 tipos de medicamentos que estão sendo recebidos e distribuídos, conforme o levantamento diário.

A terceira ação adotada pela pasta, que teve início no dia 24 de junho, foi a abertura de processo de pregão via Sistema de Registro de Preços. A intenção é fazer a compra em escala e garantir economia, possibilitando a adesão de estados e municípios. Até a última quinta-feira (2), apenas o estado de Roraima e a cidade de Aracajú (SE) haviam aderido à intenção de registro de preços como coparticipantes. Segundo a Sesa, o Paraná está providenciando o cadastro no sistema.

 

 

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HU mantém estoque com planejamento

Em Cascavel, o HU (Hospital Universitário) tem conseguido manter os estoques dos insumos com planejamento e negociações semanais. De acordo com o diretor-geral da Unidade, Rafael Muniz de Oliveira, há medicamentos para 20 dias em estoque.

O HU já socorreu recentemente o Hospital de Retaguarda, o Hospital Bom Jesus e também um hospital privado de Cascavel com insumos para utilização em UTI.

Rafael afirma que vem aprovando semanalmente ordens de compra dos insumos, mesmo com pedidos abaixo do esperado. “Como compramos em grandes volumes e há muito tempo do mesmo fornecedor, ele tem dado preferência no abastecimento ao HU e não abandonou a gente nesse momento complicado. Claro que há uma limitação de entrega. Eles não têm entregado toda a quantidade que compramos para um mês. Temos aprovado compras semanais em menores quantidades e eles garantem esse suprimento. Temos negociado diariamente os preços e as entregas com eles, assim conseguimos manter um estoque pelo menos seguro desses insumos, por enquanto sem previsão de ficar sem”, garante o diretor-geral do HU.