Cotidiano

História de Eike é Shakespeare puro, diz produtora de filme sobre empresário

SÃO PAULO – Quando comprou os direitos de adaptação do livro ?Tudo ou Nada ? Eike Batista e a verdadeira história do Grupo X?, da jornalista Malu Gaspar, a produtora Mariza Leão não imaginava as reviravoltas pelas quais a vida do empresário passaria. Batista, investigado na Operação Lava Jato por suspeita de pagar propina ao ex-governador Sergio Cabral, foi preso na segunda-feira pela Polícia Federal, quando desembarcou no Rio, ao chegar de uma curta viagem aos Estados Unidos. Esse grande ponto de virada, como são chamadas pelos roteiristas as mudanças bruscas nas narrativas, era o que faltava para a cineasta retomar o projeto, cuja concepção e direção ficará a cargo do documentarista João Jardim (“Getúlio”).

? De certa forma, faltava a essa história algo mais próximo dos escândalos políticos atuais e agora isso ficou claro. O que torna o projeto mais contemporâneo ? disse ela, em entrevista a O GLOBO.

Após ler a biografia de Batista, Mariza diz ter ficado “enlouquecida” com a história do empresário, que no livro chega apenas até a falência do Grupo X. Ela e João Jardim começaram a pensar em um roteiro, mas ao longo do processo ficaram em dúvida sobre a verdadeira força do personagem. Até que começaram a realidade começou a contribuir para a construção da ficção.

? Foi quando começou a surgir esse cardápio indigesto oferecido pelas investigações da Operação Lava Jato e as delações premiadas. Começamos a pensar onde esse personagem se colocava diante de outros personagens que começavam a surgir. As pontas começaram a se juntar e pensamos que tínhamos de trabalhar melhor. Tudo que líamos ia do trágico ao cômico, do lírico ao épico. Era Shakespeare puro ? comparou ela.

Com o título provisório de “Eike – Tudo ou nada”, Mariza pensou em um projeto de grandes dimensões, com parceiros internacionais. Fez um registro para captar cerca de R$ 14 milhões, dos quais 40% viriam de investidores estrangeiros — havia produtores canadenses interessados, segundo ela — e o restante de captações com empresas brasileiras.

? Tive muita dificuldade para captar. Achei que ia ser fácil, por causa da projeção dele no exterior, mas estava equivocada. Muitos empresários e empresas disseram que não queria associar o nome delas com esse assunto. Muita gente ganhou e perdeu dinheiro com ele, que era um dos eleitos da elite ? disse a produtora.