Cotidiano

Habilitação materna

Às vezes fico pensando se não deveriam ser os ovários de uma mulher domínio público. Assim como é necessário um rigoroso exame para se obter a carteira de motorista – vá que um doido pegue o carro e saia matando por aí – deviam existir alguns critérios para não apenas selecionar as mulheres que podiam ser mães, mas o número de filhos que elas podiam ter. Fazer filhos é fácil, e depois lá vai o Estado, e isso quer dizer dinheiro público, arcar com as consequências de crianças criadas em ambiente hostil, fato que também respinga nas famílias que por estes indivíduos serão mais tarde constituídas, uma bola de neve que impacta negativamente na sociedade.

Quem tem criança em idade escolar pode entender o que quero dizer. Com a tecnologia do Whatsapp, agora é possível uma mulher transferir para outras sua vontade de esmagar o pescoço da professora de ballet que não conseguiu tirar a tempo o colant da menina que queria fazer xixi. Caos, demissão, indignação profunda, morte à estúpida da professora de ballet. Não bastasse, a mãe procura adeptas, outras que, assim como ela, no dia de hoje acordaram com uma imensa vontade de torcer o pescoço de alguém. E lá vão as outras 26 mães acompanhar as duas terroristas que se encontraram e que juntas conspiram contra a azarada da professora que disse ser o tal colant um muito pequeno. Ou seja, a mãe enfiou a filha numa roupa que não mais lhe cabia e agora todo mundo tem que ficar acompanhando os problemas alheios, inclusive quem é mãe de menino e se quer conhece a dita professora.

Tem mulheres que, se não fossem mães dos colegas dos filhos, a gente faria o sinal da cruz e daria meia volta. Até podemos dar um sorrisinho frouxo, em dia de encontro dos pais, e se esconder lá no fundo da sala, mas vira e mexe a gente tem que ouvir a opinião de gente com sérios problemas com a vida em grupo, e a lei não permite que coloquemos o dedo indicador bem no meio do nariz e diga a ela “vai se tratar!”. O mais triste nisso tudo é saber que um par de filhos coabita com esse indivíduo, pessoa que deve passar boa parte do tempo destilando veneno sobre os filhos, talvez como a avó tenha um dia derramado sobre a mãe deles, uma relação distorcida que infelizmente se repete através das gerações. Daí a necessidade de homens e mulheres fazerem testes que verifiquem por onde anda a saúde mental e as condições, o que incluem financeiras, de educar um ser humano, pessoa que, criada à periferia dos pais e sem a devida atenção e carinho, acaba se revestindo do mesmo poder devastador daquele que pega o carro e sai destruindo vidas por aí.

 Vivian Weiand ([email protected])

A autora é Jornalista