Cotidiano

Governo dos EUA pagou mais de US$ 500 milhões por vídeos fake da al-Qaeda

201610061134579482_AFP.jpgWASHINGTON ? A investida militar americana no Iraque impulsionou os gastos Estatais também no aparato de propaganda. O objetivo, no entanto, não seria apenas persuadir civis a apoiar a ofensiva, mas também rastrear a localização de simpatizantes dos grupos insurgentes. Uma reportagem do Escritório de Jornalismo Investigativo mostra que o governo dos Estados Unidos gastou mais de meio bilhão de dólares na produção e na difusão de vídeos fake de propaganda da al-Qaeda. A empresa de relações públicas Bell Pottinger confirmou o contrato e o esquema de plantar os arquivos em cenas que seriam vistoriadas pelas tropas do país.

A primeira tarefa da agência, em 2004, seria promover eleições democráticas a pedido do governo interino do Iraque. Entre maio de 2007 e dezembro de 2011, a firma receberia US$ 540 milhões nestes contratos. Caberia aos profissionais britânicos produzir o material, no estilo de reportagens árabes imparciais, com vídeos supostamente gravados pelos terroristas. Havia uma linguagem audiovisual e uma codificação específicas, que permitiam à inteligência americana rastrear os internautas que assistissem as imagens. Isso porque os CDs com os arquivos estavam programados para abrir no software RealPlayer, que se conectava à internet quando ativado e fornecia às autoridades americanas o endereço IP (número único do computador) do espectador.

? Nós precisávamos fazer tal estilo de vídeo e tínhamos que usar filmagens da al-Qaeda. Precisava durar 10 minutos, em determinado formato de arquivo, e codificar de certa maneira?? disse ao Bureau o ex-editor de vídeos Martin Wells, segundo o qual os CDs eram levados por militares nas patrulhas e plantados nas cenas vistoriadas durante as rondas.

Na prática, se chegavam a uma casa e pensavam que deveriam bagunçar o local de qualquer forma, durante a checagem, apenas derrubavam o CD por ali, conta Wells. Ele frisa que mídias do tipo foram encontrados no Irã, na Síria e nos Estados Unidos. O Pentágono confirmou que a agência foi contratada pela Força Tarefa de Operações de Informação, mas insistiu que todo o material distribuído era ?verdadeiro?, ressalta o Bureau.

O veículo jornalístico reporta que a Bell Pettinger trabalhou com funcionários do alto escalão militar dos Estados Unidos, no auge da Guerra do Iraque. Às vezes, as peças produzidas subiam à cúpula para que generais assinassem. Reporta o Bureau que o general David Petraeus e até a Casa Branca teriam analisado as produções. Na visão de Tim Bell, ex-presidente da empresa, o trabalho feito no Iraque ?beneficiou todo o esforço global?.