Cotidiano

Gol vai pagar R$ 4 milhões por queda de avião dentro de terra indígena

SÃO PAULO. A Gol Linhas Aéreas deve assinar até o fim deste mês contrato para pagamento de R$ 4 milhões aos índios kaypós da Terra Indígena Capoto-Jarina, no Mato Grosso, a título de indenização pela queda do avião que fazia o voo 1907, em 2006. A área onde a aeronave caiu deixou de ser usada pelos índios, que passaram a denominá-la “casa dos espíritos”. Segundo a tradição e cultura indígena, a área é agora ocupada pelos espíritos dos 154 mortos no acidente.

A indenização é fruto de um acordo entre a empresa e os líderes da TI Capoto-Jarina, fechado em novembro passado. Pelo acerto, o Ministério Público Federal deveria fazer um estudo antropológico para indicar quem eram os líderes da comunidade que deveriam assinar o contrato. O dinheiro deverá ser administrado pelo Instituto Raoni, que prestará contas à Procuradoria Geral da do Barra do Garças.

O avião caiu a cerca de 20 quilômetros da aldeia onde morava o cacique Raoni, um dos líderes da Terra indígena e presidente do Instituto Raoni. Toda a aldeia teve de ser transferida para outro lugar, em respeito aos mortos.

Edson Araceli Santini, um dos representantes do Instituto Raoni, afirmou que o Instituto Raoni vai apresentar um plano de trabalho ao Ministério Público Federal para uso do dinheiro. A ideia é usar os recursos para programas que beneficiem toda a comunidade. Na Terra Indígena Capoto-Jarina, segundo ele, moram atualmente cerca de 1.800 pessoas. No Censo de 2010, a área abrigava 1.004 indígenas.

– Vamos investir em oficinas de qualificação e programas para produção de arroz, mandioca, batata doce e piqui. Também queremos instalar pomares nas aldeias, com árvores nativas. Para as mulheres, queremos oferecer oficina de corte e costura, para que elas possam fazer as roupas usadas pela comunidade – diz Santini.

Segundo Santini, esse é o maior valor direcionado ao Instituto Raoni vindo de uma única empresa,. mas o instituto já está acostumado a gerir projetos de alto valor. De acordo com Santini, o instituto administra, por exemplo, uma verba de R$ 1 milhão do Fundo Kayapó, atrelado ao Fundo Amazônia, a ser aplicada em comunidades indígenas da região. O fundo é formado com recursos doados pela Noruega e Alemanha, entre outros.

Santini conta que a Terra Indígena Capoto-Jarina conta ainda com recursos doados pelo Itaú para recuperação de área degradada, com formação de roçado numa das aldeias.

– Eles produzem banana, mandioca e em breve terão pomar. O projeto está dando certo e a ideia agora é expandir o modelo – afirma.

O representante do Instituto Raoni afirmou que mesmo que a Gol pague à vista os recursos ficarão depositados e a utilização será acompanhada pelo MPF. Procurada, a companhia aérea não se manifestou.

– Queremos que essa indenização gere retorno às 14 aldeias nos próximos sete a oito anos. Dinheiro você sabe como é, se quiser acaba em 15 dias. O acordo prevê que o Ministério Público fiscalize o uso e isso foi acertado com a própria comunidade.

O voo 1907 fazia a rota Manaus-Rio de Janeiro e caiu depois de ser atingido por um jato Legacy, que seguia para os Estados Unidos, em área de difícil acesso. O resgate foi feito principalmente com acesso pelo município de Peixoto Azevedo.

A TI Capoto-Jarina ocupa 634 mil hectares nos municípios de Santa Cruz do Xingu, São José do Xingu e Peixoto Azevedo