Cotidiano

Gargalo da ferrovia faz fretes por trem travarem na região

Apesar de preço muito inferior ao rodoviário, problema está na falta de vagões para escoar de Guarapuava até o porto

Cascavel – Ante o impasse causado com o aumento do preço do frete rodoviário, após a tabela baixada pela ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre), dia 30 de maio, a lógica seria haver um crescimento no modal ferroviário. Mas não é essa a realidade no oeste do Paraná.

Pelos trilhos quase centenários da Ferroeste, sociedade de economia mista ligada do governo do Paraná, há dias em que nenhum vagão deixa a estação em Cascavel. O transporte de grãos partindo de Cascavel rumo a Guarapuava segue lento, bem abaixo da capacidade da ferrovia, embora o custo do frete de cargas a granel seja metade do valor cobrado pelos caminhoneiros.

A Ferroeste até tem disponibilidade para levar mais, ocorre que a Rumo, responsável pelo trecho considerado gargalo à produção entre Guarapuava até o Porto de Paranaguá, tirou a maior parte dos vagões do percurso, remanejando-os para o norte do Paraná.

Assim, o que tem descido prioritariamente de Cascavel a Guarapuava são cargas para abastecimento de empresas naquela cidade, como é o caso DA Cooperativa Agrária, além de uma demanda relativamente nova com o transporte de grãos para uma multinacional que tem unidades em Guarapuava. “No meio do ano, a empresa que faz Guarapuava ao Porto de Paranaguá migra [os vagões] para a região norte do Paraná. Isso é histórico para o direcionamento do frete e acaba respingando na Ferroeste. Por isso, o transporte ferroviário, que poderia estar transportando muito mais, especialmente agora, praticamente não teve alteração de volume”, explica o diretor de produção da Ferroeste, Rodrigo César de Oliveira. Segundo ele, a concessionária deve “devolver” os vagões a esse trecho no último quadrimestre do ano, para atender ao escoamento da safra de verão.

Segundo líderes cooperativistas e especialistas de mercado, a insegurança jurídica provocada pelo tabelamento dos fretes rodoviários feito pelo governo e a elevação de preços – para a região em média de 55% – fazem com que os grãos estocados, como a soja e o milho que começa a ser colhido agora – emperrem nos armazéns. É que ninguém quer pagar a conta que ficou muito mais cara.

Por enquanto, estão mantidos apenas os transportes rodoviários cujos contratos foram firmados antes do tabelamento, com valores anteriores ao tabelamento.

Capacidade para 5 milhões de toneladas

O transporte pela ferrovia cresceu 6% no primeiro semestre deste ano em comparação a igual período de 2017, considerando apenas o trecho da Ferroeste (Cascavel a Guarapuava). De janeiro a junho de 2018 foram transportadas 427 mil toneladas, contra 405 mil toneladas no ano passado.

Apesar do aumento, o volume ainda está muito aquém da capacidade plena da via, que é de 5 milhões de toneladas por ano, tanto em cargas a granel quanto de contêineres frigorificados.

Hoje a Ferroeste transporta apenas 20% desse volume, em torno de 1 milhão de toneladas por ano. Vale destacar que a produção do oeste do Paraná e de parte do Paraguai, que passa pela região para ser escoada, é de 15 milhões de toneladas/ano. Assim, 14 milhões de toneladas continuam sendo transportadas prioritariamente pelas rodovias.

Hoje os granéis respondem por mais de 70% das cargas transportadas pela Ferroeste e, desse volume, 63% foram cargas de soja neste ano. As cargas frigorificadas respondem por 21% dos transportes.

Uma nova ferrovia para mais eficiência

No ano passado o governo do Estado voltou a discutir a implantação de uma nova ferrovia ligando o Mato Grosso do Sul, passando pela região oeste do Paraná com destino ao Porto de Paranaguá em uma extensão de cerca de mil quilômetros de trilhos. O foco está justamente no corredor de exportação como uma alternativa logística eficaz e mais barata para escoamento da produção, tanto de cargas a granel como frigorificadas, sanando, entre outros aspectos, o gargalo logístico.

O modal, que está em fase de análise de projeto de viabilidade, pode custar cerca de R$ 10 bilhões.

Considerando apenas o custo do setor produtivo do oeste e do sudoeste com o pagamento de tarifas de pedágio, por exemplo, que soma R$ 300 milhões por ano, o setor produtivo “pagaria” o investimento em três décadas.

A própria Ferroeste iniciou o processo de consultas públicas até culminar na chamada Proposta de Manifestação de Interesse para escolha da empresa que fará o estudo de viabilidade técnica. A expectativa é de que ainda neste ano sejam debatidos aspectos técnicos da licitação. A ideia da nova ferrovia é para que seja executada com capital misto,