Cotidiano

Galã tardio na TV, Domingos Montagner tinha longa trajetória no teatro

RIO – Apesar de recente, o reconhecimento de Domingos Montagner na TV é resultado de uma longa trajetória de pesquisa, preparo e atuação em diferentes vertentes das artes cênicas e dramáticas, com atenção especial ao teatro e ao circo. Em São Paulo, em 1997, o encontro artístico entre Domingos e Fernando Sampaio originou a Cia. La Mínima, que reuniu essas duas paixões expressivas do ator.

Com a La Mínima, Domingos e Fernando conquistaram e dividiram o prêmio Shell de melhor ator em 2008, pela montagem “A noite dos palhaços mudos”. A peça, escrita por Laerte, foi apresentada no Rio em 2011, no Teatro Poeira, que também recebeu a Cia. em 2015 com a peça “Mistero buffo”, de Dario Fo. Em entrevista ao GLOBO, em 2011, Montagner falou sobre a importância das técnicas do clown para a sua formação e detalhou a dimensão política da figura do palhaço dentro da dramaturgia de Laerte:
“O Laerte usa o palhaço como centro de uma fábula contra a intolerância”, disse. Na peça, três palhaços são perseguidos por uma seita que pretende exterminá-los.

Contra eles, nada mais que o fato de serem palhaços. Na fábula de Laerte, a irreverência, a picardia, a pulsão crítica e o humor dos palhaços eram, ao mesmo tempo, uma amostra de sua liberdade de ação e uma afronta à moral conservadora de uma sociedade intolerante.
“Vejo o palhaço como um contraponto a um pensamento conservador, de direita, que não tolera diferenças. Os personagens da peça não querem nada mais do que ser palhaços, e apenas sendo o que são provocam um imenso incômodo. Porque simbolizam a liberdade e a irreverência. Isso tem a ver com a origem do nosso grupo, que investigava justamente essa picardia do palhaço de rua e de circo.

Além da La Mínima, Domingos e Fernando cofundaram, em 2003, o Circo Zanni, dedicado a criações circenses contemporâneas. Entre esses dois mundos, o teatro e o circo, Domingos buscava, sobretudo, ampliar as possibilidade de inserção do palhaço em diferentes gêneros dramáticos.
“Acredito que o palhaço tem uma capacidade de se adaptar a texturas e suportes cênicos diferenciados, ele cabe em diversas formas de encenação”, disse. “Isso indica as inúmeras possibilidades dramáticas que o palhaço pode apresentar não só no circo, mas no teatro. O palhaço está em Shakespeare, no clown, e, sempre foi muito usado como contraponto a determinados personagens. Ele parte do absurdo, da fantasia”.

A Cia La Minima se apresentaria nos dias 16 e 17 na cidade de Birigui, em São Paulo, com a peça “À la carte”.