Cotidiano

Gabriela Machado leva experiência com pinturas para criação de esculturas

2016 912357422-gabriela machado_mam_foto cwea.jpg_20160527.jpgRIO ? Nos últimos três anos, Gabriela Machado deixou a pintura um pouco de lado para criar esculturas em porcelana. Mas nos sete dias em que montou as cerca de 250 peças em uma só instalação, no Museu de Arte Moderna (MAM), ela se sentiu pintando:

? Na pintura, um ponto pode equilibrar ou desequilibrar tudo. Eu também precisava achar o equilíbrio entre as esculturas, que funcionasse no espaço do museu, com aquele ar, as janelas, o Pão de Açúcar ao fundo ? explica a artista. ? Quando pinto, faço escolhas precisas. Ali também, só que eu precisava pensar em muitos planos. Fiquei sete dias fazendo um trabalho zen, entendendo as relações entre as peças.

Sobre uma mesa de 16 por 3,5 metros, cada escultura deixou de ser um objeto único e se tornou uma das camadas de uma nova obra, ?Things that fit in my hand? (significado em inglês para ?Coisas que cabem na minha mão?). A primeira individual de Gabriela no MAM, em exposição até 3 de julho, chegou junto com uma mostra na galeria Mul.ti.plo Espaço Arte, ?Monotipias ? Phoenix?, e o lançamento, na próxima sexta, de um livro sobre sua obra, da série Arte Bra, publicada pela Automatica. Com texto inédito de Ronaldo Brito, além de uma entrevista e artigos reeditados, o livro bilíngue (português/inglês) já aborda as esculturas.

Gabriela começou a trabalhar com porcelana por uma simples vontade de experimentar novos materiais. Aprendeu a técnica durante um ano com Dora Wainer, comprou um forno e começou a arriscar, sobretudo após uma residência artística numa fábrica de porcelana em Alcobaça, Portugal. Ela começou a ir contra a técnica, grudando pedaços de peças que explodiram e deixando-se surpreender pelas cores decorrentes de cada queima da argila.

O resultado são esculturas que remetem ao gestual de suas pinceladas, que têm uma potência plástica circular, de camadas. A relação fica clara nas três pequenas telas que pontuam a exposição, por sugestão do curador do MAM, Fernando Cocchiarale.

? A porcelana tem uma forma direta do fazer, que também existe na minha pintura, mas o tempo é outro ? diz ela, que costuma pintar andando sobre a tela, no chão.

No museu, o espectador acaba por fazer relações com diferentes momentos da história da arte, de esculturas clássicas a objetos de arte popular. Isso se dá pelas diferentes formas das peças, que têm de três a 80 centímetros, por suas cores ? as criadas em Portugal, por exemplo, têm tons mais intensos ? e também suas bases, feitas em argila, gesso, madeira, porcelana e silicone.

CACTOS INSPIRAM SÉRIE

Além de um monte formado por blocos de argila no chão do museu, a instalação reúne algumas pedras, formas em bronze de folhas de embaúba e fotografias de natureza, sempre inspiradora de seus trabalhos. Durante a semana de montagem da instalação, Gabriela passou as manhãs no Jardim Botânico, comparando as alturas e relações espaciais entre as plantas.

Foi também a natureza a centelha das obras da série ?Cactus?, expostas na Mul.tip.lo até 16 de julho. Durante uma residência em Phoenix, nos EUA, em 2011, Gabriela viajou pelo Arizona e se impactou com a forma dos cactos na paisagem desértica. A partir de polaroides, com que sempre começa cada projeto, a artista imprimiu gravuras e a elas acrescentou novas camadas de tinta. Por isso os trabalhos são monotipias, não há nenhum idêntico ao outro:

? Apesar de serem naturezas-mortas, planas, essas obras me colocaram pela primeira vez na escultura. Foi naquela paisagem que entendi o que é uma forma no espaço ? diz Gabriela.

?Things that fit in my hand?

ONDE: MAM ? Av. Infante Dom Henrique 85, Aterro (3883-5600)

QUANDO: De ter. a sex. de 12h a 18h. Sáb., dom. de 11h às 18h. Até 3/7.

QUANTO: R$ 14.