Cotidiano

Filme sobre mundo da moda de Nicolas Winding Refn é vaiado em Cannes

CANNES — Cinco anos após ganhar o prêmio de direção, com “Drive”, e três depois de causar estranheza com “Apenas Deus perdoa”, Nicolas Winding Refn retorna a Cannes para novamente rachar a plateia ao meio. Muitos viram estilo de mais e conteúdo de menos em “The neon demon”, o novo filme do diretor dinamarquês, exibido nesta sexta-feira (20) na competição da 69ª edição do festival francês, e recebido com vigorosas vaias na sessão de imprensa. A outra metade adorou a interpretação de Refn sobre o mundo da moda, com referências explícitas a canibalismo, necrofilia, visual “neon noir” e música eletrônica dos anos 1980.

“The neon demon” descreve a rápida ascensão de Jesse (Elle Fanning), jovem aspirante a modelo do interior, no mundo dos editoriais de moda e fashion shows da sofisticada Los Angeles. Dona de uma beleza delicada e um temperamento ingênuo, ela consegue encantar rapidamente agentes, fotógrafos e estilistas. Não demora a perceber, no entanto, que está entrando em um terreno extremamente competitivo, despertando a inveja de um grupo de mulheres que farão qualquer coisa para possuir sua vitalidade e juventude.

– É um filme de terror adolescente (sobre o universo da moda) – resumiu Refn durante a coletiva de imprensa. – Há algo de aterrorizante em pensar que a obsessão pela beleza física só aumentou com a revolução digital. Vemos isso acontecer na mídia social, na TV e nos filmes. O que acontecerá quando a longevidade não for mais possível? Tenho duas filhas pequenas, e isso me assusta. Os padrões de hoje exigem que você pareça cada vez mais jovem. Tive que falar sobre esse tema usando uma linguagem visual que os adolescentes de hoje compreendem.

Diferentemente de seus filmes anteriores, “The neon demon” é dominado por personagens femininos – Keanu Reeves e Desmond Harrington fazem personagens menores. Em “Drive” e “Apenas Deus perdoa”, seus dois últimos, Ryan Gosling surge como um super herói sem poderes sobre-humanos.

– Em “Drive”, levei a masculinidade do protagonista quase ao nível do homoerotismo; em “Apenas Deus perdoa” era sobre emasculação, a ponto de sugerir um retorno ao útero materno. Em “The neon demon”, os homens são como as namoradas dos filmes anteriores. As mulheres, ao contrário, são tudo, estão no controle. Os homens que aparecem na história são representações de medo, de controle, e do instinto predatório. Eles são dominados por personagens femininos que permitem que eles tenham comportamento predatório, ou como o namorado de bom coração – comparou o diretor.

* Carlos Helí de Almeida está hospedado a convite do Festival de Cannes