Cotidiano

Fidel Castro trabalhou nos manuscritos de Gabriel García Márquez

20161207-081613.jpgRIO ? Fidel Castro, morto no último dia 25 de novembro, foi amado por muitos, odiado por outros tantos e, quem diria, entre suas muitas definições, pode acumular também a de editor literário. O presidente cubano atuou como consultor informal do aclamado romancista Gabriel García Márquez, fazendo correções e observações nos rascunhos do escritor.

Fidel e García Márquez se aproximaram no fim dos anos 1970. “O presidente era um ávido leitor. Quando eles se conheceram, em 1977, eles tiveram várias conversas sobre literatura e, eventualmente, Fidel se ofereceu para ler os manuscritos dele, porque ele tinha olhos bons para o detalhe”, contou a Dra. Stéphanie Panichelli-Batalla, professora de estudos latino-americanos na Aston University, em entrevista ao “Guardian”.

O autor colombiano, morto em 2014, era um defensor da revolução cubana, apoio este que nunca abandonou, apesar do histórico de violações aos direitos humanos praticados por Fidel. Stéphanie, que coescreveu um livro sobre a relação dos dois, intitulado “Fidel & Gabo”, em 2009, contou que o escritor mandava seus manuscritos completos para Havana antes mesmo de submetê-los ao seu editor.

As correções de Fidel costumavam ser mais factuais e gramaticais que ideológicas. “Depois de ler ‘Relato de um náufrago’ (1955), Fidel contou a Gabo que havia um erro no cálculo da velocidade do barco. Isso levou a Fidel a pedir para ler seus manuscritos… outro exemplo de correção tardia foi em ‘Crônica de uma morte anunciada’ (1981), onde Fidel apontou um erro nas especificações de um rifle de caça”.

Fidel ainda aconselhou Gabo sobre a compatibilidade entre armas e tipos de munição usadas pelos personagens de García Márquez. Os dois se conheceram num hotel cubano, em 1977. Apesar de ter sido descrito como uma coincidência, o encontro teria sido orquestrado por Fidel, após saber que o colombiano estava trabalhando em um livro de não-ficção sobre a vida em Cuba sob o embargo dos Estados Unidos, usando o testemunho de cidadãos comuns. Esse livro nunca foi publicado.