Cotidiano

Escândalo milionário - Estado “senta” em relatório de inspetores de pedágios

Expirado o prazo de seis meses, no governo do Estado ninguém tem notícias sobre os relatórios dos oficiais

Foto: Arquivo
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Curitiba – O complemento da Operação Integração II na esfera administrativa não teve conclusão. A operação é um desdobramento da Lava Jato em sua 55ª fase, deflagrada em 4 outubro de 2018 e que revelou um milionário esquema de corrupção no chamado Anel de Integração envolvendo as seis concessionárias de pedágio no Paraná e que chegou a levar para a cadeia o ex-governador Beto Richa.

Ainda naquele mês, a ex-governadora Cida Borghetti determinou a seis oficiais da Polícia Militar que permanecessem por 180 dias – um em cada concessionária – como interventores, porém sem influenciar na gestão de cada uma delas. O objetivo era o envio de relatórios periódicos, inclusive para o confronto de dados com o pedagiômetro, para averiguar se os números informados pelas concessionárias eram verídicos. A tentativa era impedir a sequência de atos irregulares.

Expirado o prazo de seis meses no mês passado, no governo do Estado ninguém tem notícias sobre os relatórios dos oficiais.

Os oficiais deveriam permanecer diariamente na estrutura das concessionárias, mas, segundo apurado pela reportagem do Jornal O Paraná, na Ecocataratas – que administra a BR-277 de Foz do Iguaçu até Candói e que possui sua sede em Cascavel -, o profissional nomeado esteve lá quatro vezes. O fato curioso é que as quatro visitas ocorreram todas em outubro do ano passado.

Segundo a própria concessionária, as visitas foram nos dias 5, 6, 8 e 23 de outubro. “Os assuntos abordados foram leitura do contrato e anexos. O interventor tirou dúvidas quanto à elaboração da tarifa do contrato e método de reajuste. Foi realizada a apresentação da concessão, trechos principais e de oferta, recursos e bases operacionais e esclarecimentos sobre taxas”, informou a Ecocataratas.

No início do ano, o Jornal O Paraná questionou o atual governo – a partir da Casa Civil – sobre a atuação dos militares da reserva que chegaram a ser denominados como interventores e que por determinação judicial passaram a se chamar inspetores. Na época, a Casa Civil reforçou que eles não haviam encerrado suas atividades e que antes de findar o período todos deveriam apresentar um relatório final daquilo que foi feito, e antecipou que o governo não tinha a intenção de dar sequência à atividade.

A Casa Civil também havia confirmado que os militares estavam naquele período trabalhando nos relatórios, mas que nunca foram tornados públicos.

Desde que o prazo expirou a reportagem tem feito contatos com o governo do Estado para ter acesso ao documento. Na Casa Civil foram quatro tentativas frustradas e o mesmo se deu na Agência Estadual de Notícias e na Seil (Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística). Não houve resposta aos questionamentos.

Outra informação relevante é que, mesmo se os relatórios estivessem em elaboração no início do ano, os inspetores jamais solicitaram informações à Agepar (Agência Reguladora do Paraná), que é a quem cabe o acompanhamento do cumprimento dos contratos em todo o Anel de Integração.

Reportagem:Juliet Manfrin