Cotidiano

Encontros jazzísticos marcam o Bourbon Festival Paraty

RIO – Velhos conhecidos dos palcos brasileiros, o trio The Bad Plus e o saxofonista Joshua Redman voltam ao país este fim de semana para a 8ª edição do Bourbon Festival Paraty, de sexta a domingo, com shows gratuitos em três palcos ao ar livre, nas praças da Matriz e da Igreja Santa Rita, ao lado de um elenco que inclui ainda a diva do jazz Dianne Reeves e o craque do funk e r&b Walter “Wolfman” Washington, entre outros astros. A novidade é que os celebrados instrumentistas de jazz se apresentam sábado (às 18h30m, no Palco Santa Rita) e domingo (às 21h, no Palco Matriz) como uma só entidade: o The Bad Plus Joshua Redman, quarteto que lançou um álbum em 2015, quatro anos depois de ter iniciado suas atividades. O baixista do Bad Plus, Reid Anderson, conta a história, em entrevista por telefone:

— Nós estávamos tocando no Blue Note em Nova York, era um dos aniversários do clube e os organizadores pediam que as bandas tivessem convidados especiais. O nome de Joshua foi citado e achamos ótimo, nunca tínhamos tocado com ele antes. Acabamos tendo uma ótima semana de shows.

— Eles são um grupo fantástico, que teve grande impacto na cena de jazz. Eu sabia que ia ser muito bom, só não tinha certeza de como ia me adaptar ao som deles. Depois da semana de shows, vi que havia um potencial ali — confirma Joshua, que esteve pela última vez no Brasil em 2013, no BMW Jazz Festival, com o grupo James Farm. — Acho que uma das minhas maiores habilidades como músico é a de fazer música instintivamente com outras pessoas, de encontrar as afinidades e as formas de se comunicar com os outros músicos. Música para mim é comunicação, uma conversa. Eu quis fazer parte da música do Bad Plus.

Depois dos shows iniciais em 2011, o The Bad Plus Joshua Redman seguiu se apresentando esporadicamente, quando as agendas dos músicos permitiam.

— Depois, resolvemos gravar um disco que tivesse um contexto mais de banda, com cada um de nós compondo especificamente para essa formação. E gravamos também algumas músicas do Bad Plus que vínhamos tocando, achávamos que elas deveriam ser documentadas nessa nova configuração — relata Reid Anderson.

— Cada vez mais faço parte da música dos caras, e eles se expandiram para incluir minha música. O que fazemos é orgânico, intuitivo e consistente agora — devolve Joshua.

Também assídua do Brasil, Dianne Reeves — uma das grandes vozes do jazz reveladas nos anos 1980 — canta na sexta, às 21h, no Palco Matriz, mais uma vez, acompanhada pelo violonista e guitarrista brasileiro Romero Lubambo.

— Conheci Romero no final dos anos 1990, quando fui ao Brasil para cantar com Cesar Camargo Mariano, Ivan Lins e (o saxofonista americano) Michael Brecker. Desde então, ele gravou em todos os discos que fiz, ele é muito inventivo, nunca sei o que ele vai fazer em seguida — elogia a cantora.

Influências de Ivan Lins e Dori Caymmi

No começo da década de 80, Dianne fez parte da banda de Sergio Mendes (ela volta a se apresentar com o pianista, depois de 30 anos, em agosto, em show no Hollywood Bowl). A experiência deixou marcas definitivas.

— Eu já tinha ouvido colaborações de músicos de jazz com brasileiros, como a que Wayne Shorter fez com Milton Nascimento, mas não conhecia toda a riqueza da música do país. Foi por intermédio de Sergio que encontrei Ivan Lins e Dori Caymmi. Um mundo todo se abriu e, desde então, tem um pouco de Brasil em cada disco que faço — conta a cantora americana.

Depois de um lançamento com o qual ganhou um Grammy de melhor álbum vocal de jazz (“Beautiful life”, de 2014), Dianne Reeves volta ao estúdio até o começo do ano que vem para um novo trabalho. Ela não está sozinha nas novidades fonográficas. Sem Joshua Redman, o Bad Plus promete soltar um álbum novo ainda este ano. E o saxofonista vai lançar em 2016 um disco em duo com o pianista Brad Mehldau, seu companheiro numa geração de jazzistas que apareceu nos anos 1990, da qual ainda fazem parte o baixista Christian McBride, o baterista Brian Blade e os trompetistas Roy Hargrove e Nicholas Payton.

— Tivemos a sorte de ser jovens em uma época que o jazz estava passando por um renascimento, em que havia um interesse crescente pelo estilo. As gravadoras ainda existiam como tal e nós nos beneficiamos de seus esquemas de promoção para começar nossas carreiras. Nem todo mundo fez sucesso, mas quem pôs a música em primeiro lugar teve a chance de seguir carreira e fazer música interessante — discorre Joshua.

Bourbon Paraty Festival

Onde: Nas praças da Matriz e da Igreja Santa Rita, em Paraty.

Quando: Sexta, a partir das 21h; sábado e domingo, a partir das 15h30m.

Quanto: Grátis.

Classificação: Livre.