Cotidiano

Em primeira pessoa: clima de horror após choque de caminhão em Berlim

63412829_A police officer investigate the scene after a truck ran into a crowded Christmas marke.jpgBERLIM ? Mesmo duas horas após o massacre na Praça Breitscheid, no coração da antiga Berlim Ocidental, o caminhão com placa polonesa que avançou contra os pedestres que visitavam o mercado de natal mais tradicional da cidade, Berlim parecia estar em estado de sítio: ruas inteiras, como a Kurfürstendamm ou a Budapester Strasse, continuavam bloqueadas pela polícia. Ambulâncias em todo canto. Alguns feridos graves foram transportados de helicópteros.

Caminhão em Berlim – 19.12

Eu estava saindo de uma grande loja, que fica em frente ao mercado de natal, quando ouvi um ruído muito alto, gritos e pessoas correndo de forma desesperada. Ao chegar mais perto, vinda da Kurfürstendamm, vi o caminhão, atravessado, com a frente danificada, gente caída no chão, outras correndo na direção contrária, enquanto policiais e equipes de emergência já começavam a resgatar os feridos ? sobretudo pessoas residentes em Berlim ou turistas americanos que costumam se hospedar no hotel Waldorf Astoria, o mais caro de Berlim, inaugurado há alguns anos, a apenas poucos metros.

A Praça Breitscheid é um ponto de encontro tradicional dos berlinenses. No seu centro, fica a ruína da igreja da recordação Imperador Guilherme, construída no final do século XIX pelo então imperador Wilhelm III em memória do seu avô, que por coincidência tornou-se pouco mais de meio século depois o principal memorial da Segunda Guerra Mundial: A ruína da igreja foi preservada, intencionalmente, como uma ferida aberta deixada para sempre pela guerra, chamando a atenção no templo do consumo que é a Kurfürstendamm, que os berlinenses chamam simplesmente de Ku?damm.

Por sorte ou simplesmente coincidência, minha filha Agnes, com quem tinha um encontro nesse mercado de natal ? que é o mais próximo da minha casa, que fica no bairro de Grunewald ? ligou dizendo que ia se atrasar meia hora porque tinha encontrado amigos na rua. A minha primeira reação foi ligar para ela para pedir que não viesse. E, pela primeira vez, não reclamei pela sua costumeira falta de pontualidade.

Depois disso, a luta foi para chegar em casa. A minha rua é uma continuação da Kurfürstendamm, que foi hermeticamente fechada pela policia.

Em uma rua paralela, consegui pegar um táxi. Como é muito comum em Berlim, o motorista era um turco, residente em Berlim desde há 30 anos. Yusuf Acay estava consternado.

? Eu sou muçulmano. Se essa pessoa que usou o caminhão como arma para matar tanta gente era mesmo um islamista, ela não tem nada a ver com o Islã. Quem pratica violência em Berlim, sempre deve pensar que também muçulmanos estão provavelmente entre as vítimas.

Segundo Acay, os cerca de 4 milhões de muçulmanos residentes na Alemanha sofrem muito depois de cada atentado na Europa.

? Quando somos identificados como muçulmanos, somos vistos com desconfiança até quando transportamos uma sacola de compras. A vida está ficando cada vez mais difícil.GERMANY-TRUCK_

ACIDENTE TRÁGICO OU ATENTADO?

Depois de dar um retorno pela autoestrada e chegar finalmente à minha rua, vindo da direção contrária, soube de um colega polonês que o dono da expedição proprietária do caminhão, Ariel Zurowski, havia perdido desde a tarde o contato com o seu empregado.

Acidente trágico ou atentado terrorista? Por volta das 22h, duas horas depois, não havia ainda uma confirmação. Mas a Promotoria Federal assumiu o comando das investigações, e isso indica que a suspeita maior é em direção ao terrorismo.

Ainda há poucos dias, conversei com o especialista em terror Bruno Schirra, autor do livro ?A jihad global?. Schirra, que acaba de se mudar de Paris para Berlim, tem as suas fontes de informação diretamente, através da captação da comunicação entre os terroristas, que muitas vezes acontece via internet, embora codificada.

? Eu conto como certo que haverá atentados também na Alemanha. Fale comigo de novo no Ano Novo. Ai o atentado já terá acontecido.

Pouco após o atentado, Schirra não tinha nenhuma dúvida.

? O caso traz a assinatura do Estado Islâmico!

David Eckart, chefe do mercado de natal da rua Breitscheid, disse que o mercado, que tem tendas com venda de linguiça e vinho quente, não vai reabrir nos próximos dias. Outros mercados que funcionam do dia primeiro de dezembro até a véspera de Natal ? alguns ficam abertos até 1º de janeiro ? vão funcionar normalmente.

Desde o novo ataque, as pessoas começaram a levar mais a sério as ameaças de bombas, que são praticamente diárias.