Cotidiano

Em meio à crise no Espírito Santo, a dor das mães no Departamento Médico-Legal

64776893_PA EspÃ-rito Santo ES 07-02-2017 Onda de violencia no EspÃ-rito Santo na foto Janeilsa dos.jpgVITÓRIA – Se as estatísticas apontam 76 mortos de sábado até terça-feira, é na porta do
Departamento Médico-Legal (DML) que os números ganham contornos e dramas reais,
na dificuldade que famílias enfrentam para liberar ou somente reconhecer
corpos.

Violência ES

Janeilsa dos Santos, de 33 anos, estava em Porto Seguro (BA) acompanhando o
marido a trabalho quando recebeu a ligação do filho mais velho avisando que seu
irmão, de 19 anos, havia sido assassinado no bairro de Porto Santana, em
Cariacica.

? Era domingo à noite, ele contou que o irmão não tinha chegado em casa
ainda, foi atrás e, quando soube onde estava, até o corpo já tinha sido levado.
Ele viu que era o irmão pelo chinelo que ficou no chão. As pessoas disseram que
um carro, um Corolla, encostou e que saíram atirando. Morreram três. De graça,
só falavam entre si para não atirar nas meninas, só nos homens. Meu filho não
tinha envolvimento com nada. A pessoa que tirou a vida do meu filho nunca o viu
na vida. Por prazer, isso não é humano ? relatou.

Janeilsa se mudou com o segundo marido e os filhos há um ano para a cidade
vizinha a Vitória. Sem ajuda do governo para pagar os serviços funerários,
lamentava ter de enterrar o filho em Cariacica, e não em Nova Venécia

? O pai não o via há mais de um ano, os avós também, e não vão ver. Custava
R$ 3,6 mil fazer o enterro lá, não temos isso. Vai ser enterrado aqui, por R$ 1
mil, sem direito a velório.

Era um relato parecido com o de Elizabete da Fonseca, cujo sobrinho de 16
anos foi morto no quase homônimo bairro de Santana, também em Cariacica.

? Ele pediu lanche à noite e estava demorando. Então decidiu buscar, domingo
à noite. Veio um carro, saíram pessoas armadas, todo mundo correu mas ele não
conseguiu. Ninguém pode ser contra as reivindicações dos PMs, mas isso é um
exagero absurdo ? disse.

As investigações sobre as mortes estão com a Delegacia de Homicídios da
Polícia Civil. Embora tenham sido 76 assassinatos desde sábado, ninguém foi
preso até hoje em decorrência dos crimes.