Cotidiano

Dona Onete: 'Enfiam a cultura dos outros goela abaixo, mas não podemos deixar a nossa morrer'

RIO ? “Diva do carimbó”, Dona Onete leva o ritmo do Norte do Brasil para a Varanda Vivo Rio, nesta quinta-feira, ao lado do cantor e guitarrista Felipe Cordeiro, outro representante da efervescente cena paraense. A noite, dedicada a homenagear a cultura amazônica, também terá show do grupo Pirarucu Psicodélico que, assim como Dona Onete, busca não apenas revitalizar, como manter vivo o carimbó, ritmo considerado patrimônio cultural imaterial brasileiro.

? Em Alter do Chão (no Pará), o ritmo existe há muitos anos. Lá, havia uma casa que só tocava carimbó, era onde íamos para aproveitar. Agora, um pessoal chegou para morar e construiram seus bangalôs . Conclusão, fecharam o local porque fazia barulho. Você já pensou? O carimbó é a nossa vida ? lamentou a paraense de 77 anos, que acumula mais de 200 composições em sua intensa trajetória. ? Já quase chorei por causa disso. Eu luto por esse carimbó, mostrando dentro e fora do Brasil. Daqui a pouco, vão querer acabar com o Sairé (ritual religioso tradicional da Amazônia que acontece há mais de 300 anos no mês de setembro, e serve de base para o carimbó).

Dona Onete – No Meio do Pitiú

A veterana cantora ? que foi professora de História, secretária de Cultura e fundadora de grupos de dança e música regionais no Pará ?, também demonstra preocupação com o samba, gênero ao qual sempre foi chegada.

? Eu escutei muito Clara Nunes, Ataulfo Alves, Pixinguinha… E já não vejo mais tanto isso. Esses artistas foram morrendo e os herdeiros acabaram não levando o samba para frente. Muitos foram para o pagode, tudo bem, é um sambinha, mas é diferente ? declarou Dona Onete, que teme que o Brasil se torne a terra do “já teve”. ? Enfiam goela abaixo a cultura dos outros na gente, mas não podemos deixar a nossa morrer ? acrescenta.

Dona de uma vitalidade ímpar, Ionete da Silva Gama é natural de Cachoeira do Arari, na ilha do Marajó, e foi descoberta nos anos 2000 pelo grupo Coletivo Rádio Cipó no bairro da Pedreira, em Belém. Na época, a cantora já estava aposentada da carreira como professora de estudos amazônicos, e pôde finalmente se dedicar à música. Em 2012, ela lançou seu primeiro álbum, “Feitiço caboclo”, e atualmente vive o auge de sua carreira, colhendo os frutos de “Banzeiro”, seu mais novo trabalho, repleto de boleros e carimbós.

? Meus shows costumam durar uma hora e meia, às vezes até mais. Acredito que essa força vem do público que troca muita energia comigo. Mas, também, boa parte da minha vitalidade vem do açaí. E do jambu! ? declarou ela, que além de gravar seu primeiro DVD no começo deste ano, sairá em turnê novamente pelos EUA e Europa no segundo semestre.

SERVIÇO

Onde: Varanda do Vivo Rio. Av. Infante Dom Henrique 85, Aterro do Flamengo. Quando: Quinta, às 23h. Quanto: R$ 80. Classificação: 18 anos.