Cotidiano

Doleiro preso na Operação Eficiência entregava dinheiro vivo

Alvaro Novis.JPG

RIO – O doleiro Álvaro José Galliez Novis, da Hoya Corretora de Valores e Câmbio, é considerado pelos investigadores da Calicute o operador financeiro do esquema de cobrança de propinas comandado pelo ex-governador Sergio Cabral. Cabia a ele fazer os pagamentos dos valores acertados entre as empreiteiras e o Palácio Guanabara. Muitas vezes, como o Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) apuraram, Novis transportava e entregava dinheiro vivo.

Desde que foi preso pela primeira vez, na 26ª fase da Lava-Jato, denominada Operação Xepa, em 22 de março do ano passado, Álvaro Novis dava sinais de que esperava uma nova investida das autoridades. Considerado um dos maiores proprietários de cavalos do Jockey Club do Brasil, ele liquidou o plantel inteiro em setembro do ano passado, leiloando 66 animais do Stud Alvarenga.

Pouco lhe restava dos momentos de glória, quando via os seus cavalos cruzarem primeiro a linha de chegada. O macho ?Bal a Bali?, por exemplo, ganhou no mesmo ano, 2014, o Grande Prêmio Brasil e a Tríplice Coroa. Ao sair da prisão cinco dias depois, Novis deixara de ser o discreto caixa pagador que se movia nas sombras.

Até a nova prisão, Novis era identificado como operador da Odebrecht. Além de Novis, os alvos da Xepa foram nomes ligados à empreiteira, entre eles Benedicto Júnior, que ocupou a presidência da Odebrecht Infraestrutura e era dos principais interlocutores da empreiteira com o mundo político.

Uma das operações mais frequentes da Odebrecht contava com a participação do Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava. Enquanto a empresa injetava dinheiro em conta conjunta que mantinha com a cervejaria em Antíguas, paraíso fiscal do Caribe, o Grupo Petrópolis fazia os pagamentos a políticos no Brasil indicados pela Odebrecht por meio de duas de suas distribuidoras, Leyroz e Praiamar. A entrega seria feita por Novis.

A Odebrecht, de acordo com a força-tarefa da Lava-Jato, tinha uma estrutura profissional de pagamento de propina, o ?Setor de Operações Estruturadas?, subordinado a Benedicto Júnior. Na casa do executivo, foi encontrada uma planilha com codinomes vinculados a repasses de valores. Novis seria um dos responsáveis pela entrega de propina da empreiteira. Álvaro José Galliez Novis é sobrinho de Álvaro Pereira Novis, ex-vice-presidente financeiro da Odebrecht.
Novis, nas planilhas da Odebrecht, era tratado pelos codinomes Carioquinha e Paulistinha, por supostamente cuidar da entrega das propinas no Rio e em São Paulo. Na planilha apreendida na casa de Benedicto Júnior, uma pessoa de codinome ?Proximus? teria recebido R$ 2,5 milhões. O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) seria a pessoa com esse apelido. Às autoridades, Benedicto Júnior já contou que o codinome foi criado nas vésperas da eleição estadual de 2006, pois a Odebrecht tinha certeza de que Cabral seria eleito, condição que o faria o próximo governador fluminense. O dinheiro a ?Próximus? teria sido entregue em cinco parcelas de R$ 500 mil pela Linha 4 do Metrô, com o pagamento efetuado nos dias 16 de setembro, 24 e 29 de outubro, 12 e 13 de novembro de 2014, período em que acontecia no estado a eleição para a sucessão de Cabral (vencida por Luiz Fernando Pezão).

paulistinha.jpg

Na Operação Calicute, em que Cabral foi preso, as investigações demonstraram que Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, apontado como operador do peemedebista, trocou dólares por intermédio de Novis para uma viagem do filho. Chegou-se a especular que Novis poderia fazer uma delação premiada, o que não ocorreu.

Em documento da Operação Xepa, o juiz Sérgio Moro afirma que os registros de visitantes na sede da Odebrecht em São Paulo apontam diversas visitas recebidas por empregados da Hoya Corretora, de Novis. Moro pontua ainda que a corretora de Novis figura como responsável por várias das entregas em espécie identificadas nas planilhas apreendidas da Odebrecht. São discriminadas entregas em espécie de R$ 9,1 milhões pelo prestador de serviço “Paulistinha”, por solicitação de executivos da Odebrecht, a diversas pessoas identificadas somente por codinome, como “Cabeça Chata”, “Professor”, “Coxa”, “Padeiro”, “Comprido”, entre outros, no período de 23 de outubro de 2014 a 24 de outubro de 2014.

Novis já foi processado criminalmente por crimes financeiros, incluindo evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Conforme Moro assinala no documento, ele era o responsável pela conta em nome da offshore Tronix Holdings Ltd. no MTB Bank e teria movimentado cerca de 66 milhões de dólares entre 02 de janeiro de 1997 a 27 de agosto de 2003, em operações do tipo dólar cabo. Ele foi condenado a 13 anos, nove meses e dez dias de reclusão. Novis recorreu ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que também considerou as condutas atípicas, e agora aguarda recurso no Superior Tribunal de Justiça, interposto pelo Ministério Público Federal.