Cotidiano

Discurso de Temer também irá abordar alerta contra ultranacionalismo

BRASÍLIA – Em seu primeiro discurso de abertura da reunião das Organizações das Nações Unidas, o presidente Michel Temer dará um tom internacional com alerta sobre ultranacionalismo e riscos nucleares. No entanto, não poderia deixar de dar uma explicação ao mundo sobre o singular momento da política brasileira. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, discretamente ele refutará a ideia de que um golpe político ocorreu no país. E encerrará sua fala com mensagem de compromisso inegociável com a democracia.

Explicará que o Brasil acaba de atravessar processo longo, complexo, cheio de regras e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Supremo Tribunal Federal (STF) que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Insistirá que tudo transcorreu dentro das normas constitucionais. E dirá que não há democracia sem Estado de direito, onde as leis se aplicam a todos até aos mais poderosos.

Um dos pontos a ser explorado pelo presidente é o atual processo de ?depuração? de seu sistema político. Ele dirá que as instituições no Brasil funcionam, que a sociedade plural fiscaliza e que há imprensa inteiramente livre.

Michel Temer também dirá que o Brasil acredita no poder do diálogo. E que o mundo apresenta marcas de incerteza e desinstabilidade. Falará que o sistema internacional experimenta um déficit de ordem. Citará o fundamentalismo violento, tragédia dos refugiados e o recrudescimento do terrorismo.

Alertará que a paralisia política leva à guerras que se prolongam sem solução. E ainda que a incapacidade de reagir aos conflitos agrava os ciclos de destruição. Isso aumenta a vulnerabilidade, o medo e o entrincheiramento.

O presidente também chamará a atenção para o retorno da xenofobia. E nacionalismos exacerbados que ganham espaço pelo mundo. E ainda dirá que há diferentes manifestações de demagogia trazem sérios riscos. E que o planeta precisa de paz, desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos humanos.

À plateia, Temer falará que o Brasil quer um mundo em que o direito prevaleça sobre a força e que regras que reflitam a pluralidade das nações. Dirá ainda que o mundo precisa de normas que atenuem as assimetrias da globalização. E que não basta apenas ceder à resposta fácil do protecionismo.

Como o foco do discurso não será o Brasil, mas a visão brasileira do mundo, o presidente aconselhará os líderes a pensarem na população e usará imagens como os mercados de Cabul, as ruas de Paris e as ruínas de Aleppo para chamar a atenção para o drama humano nas crises enfrentadas pelo mundo. Alertará para o fato de as instituições multilaterais não se reinventarem, enquanto os conflitos estão em constante mudança.

Relembrará que o Brasil alerta há décadas para uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. Pedirá colaboração das nações para o combate ao tráfico de drogas e de armas e ao crime organizado.

Temer ainda cobrará solução para conflitos como a guerra na Síria. Para ele, é inadiável uma solução política, que garanta a ajuda humanitária ao povo daquele país. E frisará ainda a preocupação da falta de perspectiva de paz entre Israel e Palestina e da falta de progresso na agenda de desarmamento nuclear. Citará diretamente os testes na Corea do Norte.

O discurso de Temer, entretanto, também exaltará boas perspectivas como, por exemplo, o acordo entre o governo colombiano e as Farc para o fim do último conflito armado do continente e o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos.

Sobre a América Latina, Michel Temer dirá que coexistem governos de diferentes inclinações políticas e que isso é saudável. O importante_ falará_ é tem a perspectiva de desenvolvimento com serviços públicos de qualidade e igualdade de oportunidades.

Trará ainda um mensagem ecológica: é necessário crescer de forma socialmente equilibrada com respeito ao meio ambiente porque o planeta é um só. Michel Temer ainda alfinetará os países ricos ao dizer que o protencionismo impede o desenvolvimento de países emergentes.

Aos chefes de Estado do mundo todo, o presidente deve falar sobre as minorias e outros segmentos mais vulneráveis de nossas sociedades. Citará a experiência brasileira com programas de transferência de renda.