Cotidiano

?Desemprego vai piorar antes de melhorar?, diz economista-chefe do banco BNP Paribas

RIO – A economia brasileira passa por um momento de virada neste segundo semestre, exibindo os primeiros sinais de melhora, mas a notícia ainda vai demorar a chegar para os 11,4 milhões de desempregados, segundo o economista-chefe para América Latina do banco francês BNP Paribas. Para Marcelo Carvalho, o mercado de trabalho ainda ?vai piorar antes de melhorar?.

? Embora a gente tenha uma visão positiva para a economia, o mercado de trabalho sofre uma defasagem. O desemprego vai continuar subindo até o ano que vem. Na verdade, a expectativa é que ele só se estabilize a partir do 2º trimestre do ano que vem. Então, a situação vai piorar antes de melhorar ? afirmou o economista em entrevista coletiva virtual nesta quinta-feira.

A taxa de desemprego brasileira vem subindo desde o fim de 2014, saltando de 6,5% para 11,2% no trimestre encerrado em maio, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.

Quanto à atividade econômica, cuja reação tende a anteceder à do mercado de trabalho, Carvalho espera números de crescimento positivos a partir do quatro trimestre deste ano. No 3º trimestre, sua expectativa é de crescimento perto de 0%, podendo ser levemente positivo. No ano como um todo, porém, o BNP Paribas segue esperando uma retração de 3%. O crescimento na base anual só virá, segundo o banco, em 2017, para quando espera-se um avanço de 2%. Um dos fatores que ajuda a melhora da economia brasileira é o cenário externo, acrescento, uma vez que a onipresença de juros baixos e até negativos em países ricos acaba beneficiando a atratividade de nações emergentes como o Brasil.

? A economia já está em um ponto de inflexão. O primeiro semestre foi fraco. A gente vê, entretanto, primeiro sinais de virada para um segundo semestre um pouco melhor. A média do ano ainda é de recessão, uma recessão de 3%, mas uma recuperação já está começando no 2º semestre ? disse Carvalho, lembrando que a consolidação da melhora depende de avanços na situação fiscal, cujas propostas de resolução apresentadas estão, na avaliação do economista, no rumo certo. ? A inflação também está em trajetória de queda. Ela deve continuar a ceder nos próximos meses em direção à meta (de 4,5% ao ano) no ano que vem. Este ano deve ficar alta ainda, perto de 7%.

DÓLAR PODE CHEGAR PERTO DE R$ 3

O economista lembrou que o enfraquecimento do dólar tem ajudado o Banco Central (BC) em sua missão de controle dos preços.

? Mas não seria surpreendente se o câmbio caísse ainda mais. É perfeitamente possível que ele se aproxime de R$ 3. Está correta a decisão do BC de ir desmontando o programa de swap. Ele acelerou o passo recentemente mas isso não muda muito a estratégia. o BC parece ter percebido que o negócio não é intervir muito, não. Vamos ter um BC interferindo cada vez menos e um câmbio cada vez mais flutuante ? afirmou Carvalho, cuja previsão oficial ainda é de um dólar valendo R$ 3,25 no fim deste ano. ? A queda do dólar ajuda a tarefa do BC de trazer a inflação para a meta. É um movimento bem vindo.

A tendência de queda da inflação abrirá espaço para o BC reduzir os juros básicos do país, a taxa Selic (atualmente em 14,25% ao ano, maior patamar desde 2006).

? O BC não está com pressa, está até demorando mais do que se esperava dele. Mas acredito que, uma vez que ele comece a cortar juros, o que deve acontecer mais para o fim do ano, há espaço para que ele corte a Selic em 5 pontos percentuais nos próximos 2 anos (o que levaria a Selic para 9,25% no fim de 2018) ? observou.