Cotidiano

Defesa de Bumlai diz que delação de Delcídio é 'conveniente e fantasiosa'

SÃO PAULO. Os advogados de José Carlos Bumlai afirmam que a delação do ex-senador Delcídio do Amaral é “conveniente e fantasiosa” e, acima de tudo, não convence ao tentar atribuir ao pecuarista a intenção de evitar que ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró colaborasse com a Justiça. Em documento apresentado à 10ª Vara do Distrito Federal, em resposta à acusação, a defesa afirma que a delação de Delcídio foi apenas o que a Lava-Jato precisava para “conseguir pescar o desejado molusco cefalópode, lendo-se, mais uma vez, de sua isca predileta”, Bumlai.

“Acontece que o tarrafo continua mal armado. A trama narrada pelo senador simplesmente não fecha e não convence”, dizem os advogados.

Bumlai passou cinco meses em prisão domiciliar para tratar de um câncer de bexiga. Na última terça-feira, por determinação do juiz Sérgio Moro, voltou a cumprir prisão preventiva em Curitiba. A defesa alegou que ele prestou depoimentos que ajudaram a esclarecer os fatos em que foi envolvido e que não haveria motivo para a prisão, que estava durando tempo excessivo, mas o habeas corpus foi negado.

A defesa do pecuarista afirma que Delcídio, que vivia na mesma cidade de Bumlai, no Mato Grosso do Sul, tinha com o pecuarista uma relação conflituosa e o então senador “tinha ciúme da amizade” de Bumlai com Lula. Maurício Bumlai, filho do empresário, porém, tinha amizade próxima com a mulher de Delcídio e, por isso, relacionava-se com frequência com o casal.

Os advogados sustentam que, ao se ver flagrado negociando a fuga de Cerveró e abandonado pelo PT, o ex-senador decidiu fazer uma delação envolvendo Bumlai para colocar, por meio dele, o ex-presidente na trama. Afinal, diz o documento, quem tinha longo período de trabalho ao lado de Cerveró na Petrobras era o próprio Delcídio e, portanto, quem tinha interesse em evitar uma delação premiada era ele.

“Se alguém tinha interesse no silêncio de Nestor Cerveró, este alguém se chama Delcídio do Amaral e não José Carlos Bumlai”, diz o documento

A defesa de Bumlai diz que “é impossível conceber um processo criminal baseado na versão de um delator, quando outro delator conta uma

história completamente diferente”. Um dos conflitos, afirmam, é que Delcídio diz ter avisado o filho de Cerveró, Bernardo Cerveró, que o dinheiro viria de Bumlai, mas que a informação não foi confirmada em depoimento por Bernardo. “Pelo contrário, Bernardo diz que o senador passou a fazer referências a André Esteves, que é quem ?entraria com a grana?. Além disso, assinalam, a família de Cerveró diz que nunca recebeu dinheiro algum.

Os advogados dizem que não fica claro na acusação quem pagaria a Cerveró pelo silêncio, se o banqueiro André Esteves ou o próprio Bumlai, que não pode ser obrigado a produzir prova dizendo que ?entre 11.04.2015 e 25.09.2015?, não concordou com atos de terceiros e que não sabia das intenções de Delcídio.

Apontam ainda inconsistências entre o depoimento de Delcídio e de um dos assessores dele, Diogo Ferreira.

A defesa diz que Maurício Bumlai é acusado de ter entregado R$ 50 mil a Ferreira no dia 17/08/2015 e que o valor foi sacado no dia 14/06/2015, da conta 20184, na agência 1040, banco Bradesco e que “não é nem um pouco razoável presumir que o dinheiro tenha sido sacado dois meses antes”.

“O peticionário foi pinçado para dentro de um roteiro policial de quinta categoria”, dizem os advogados, acrescentando que não há qualquer telefonema gravado, mensagem ou documento que mostre que Bumlai teve algum envolvimento na trama.

“Ninguém confirmou sua participação nem tampouco existe qualquer documento, e-mail, ligação telefônica ou outro elemento concreto capaz de dar credibilidade a essa fantasiosa ilação. Nem mesmo os encontros de Maurício Bumlai com outros denunciados são capazes de confirmar a participação de José Carlos Bumlai”,

Os advogados dizem que Bumlai não teria qualquer motivo para tentar evitar uma delação de Cerveró e a prova disso é que não foi citado por ele em depoimento de colaboração. “Agrade ou não ao Ministério Público, o fato é que não haveria motivo algum para o peticionário comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ao contrário de Delcídio do Amaral, que é citado por ele em diversos trechos de sua delação”.