Cotidiano

Decisão de Cunha de renunciar foi tomada na madrugada, contam aliados

BRASÍLIA — As conversas sobre a renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à Presidência da Casa se arrastaram na última semana, mas aliados garantem que ele bateu o martelo, concordando finalmente em tomar a atitude na madrugada desta quinta-feira, em conversa na residência oficial da Câmara. Reunido com o grupo de aliados mais próximos, entre eles o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), do PTB, Jovair Arantes (GO), do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), Marcelo Aro (PHS-MG), o líder do PR, Aelton de Freitas (MG), o líder do governo, André Moura (PSC-SE), Cunha quis ouvir de cada a opinião de cada um, para em seguida, anunciar: a renúncia será amanhã, às 13h. O horário foi marcado para que ele pudesse entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) com a autorização para ir à Câmara fazer o anúncio.

Segundo os aliados, ele próprio redigiu a carta que leu à imprensa. Ontem, ao anunciar a decisão, segundo o deputado Marcelo Aro, ele não chorou.

— Eu só vi o Eduardo chorar duas vezes: hoje e no dia em que foi afastado da presidência da Casa. Nem no dia da busca e apreensão na residência oficial eu vi ele assim — contou Aro.

A reunião na residência oficial também contou com a presença do líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), segundo os participantes. O presidente interino Michel Temer foi avisado da decisão de Cunha. Já na manhã desta quinta-feira, uma primeira reunião, no PRB, começou a tratar da sucessão de Cunha. Cunha não marcou uma reunião, os amigos foram chegando e convocaram alguns líderes para a conversa, quando ela começou a tomar um rumo mais sério, para o desfecho da situação.

De acordo com os aliados, o acerto de como seria feito o anúncio foi articulado ainda na madrugada. A ideia era que os aliados e deputados estivessem a seu lado no momento do anúncio, mas muitos já tinham viajado.

Um dos principais aliados de Cunha, o deputado Paulinho da Força Sindical (SD-SP), não participou porque não foi encontrado. O mesmo aconteceu com o deputado Arthur Lira (PP-AL). O líder do PRB, Márcio Marinho (BA), também recebeu um telefonema na noite de ontem para ir ao encontro, mas não participou das conversas na residência oficial. Segundo Marinho, não houve qualquer conversa para vincular a renúncia à Presidência a votos dos deputados de sua bancada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na votação do recurso de Cunha contra sua cassação.

— Não tem nada previsto de mudança na CCJ, até porque eu fui convidado a participar da reunião (na residência oficial), mas não vi o recado. Agora pela manhã é que fizeram contato comigo. Mas não tocamos neste assunto. Fizemos uma outra reunião de manhã no PRB porque agora, a partir da renúncia, as conversas giram em torno da eleição do próximo presidente. Tenho um pré-candidato, o Beto Mansur (PRB-SP) — disse Marinho, acrescentando:

— Na CCJ, cada deputado do PRB votará de acordo com sua consciência.

Apesar de os colegas garantirem que o líder do PR estava presente na reunião com Cunha nesta madrugada, o líder Aelton Freitas nega ter participado.