Cotidiano

Criação de filhos pelo mundo é filão editorial e objeto antropológico

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RIO – O livro ?Crianças dinamarquesas?, que acaba de chegar às prateleiras no Brasil, tem um antecessor de peso no mercado editorial, também do selo Fontanar, da Companhia das Letras: ?Crianças francesas não fazem manha?, da jornalista americana Pamela Druckerman. Lançado no Brasil em 2013, o título figurou por várias semanas nas listas dos mais vendidos no país ? e, segundo dados da Nielsen, já é considerado um ?long seller?, devido ao grande volume de vendas por um longo período. O livro teve uma média mensal de 1.700 exemplares vendidos nos últimos três anos.

Pamela apresenta um limite conhecido como ?cadre?, em que a crianças francesas têm autonomia e liberdade até um certo limite ? além dele, permanece a autoridade dos pais. A ideia de um balanço possível entre necessidades dos pais e da criança pareceu encantar o mundo, e deu fôlego para que a jornalista publicasse mais dois livros sobre o assunto.

Além dos livros sobre a criação de filhos na França e na Dinamarca, há também, no exterior, títulos sobre as ?crianças mais felizes do mundo?, que seriam as holandesas, segundo ?The happiest kids in the world?, de Rina Mae Acosta e Michele Hutchison; e até aqueles que trazem aspectos globais da educação, como ?Parenting without borders?, de Christine Gross-Loh. Na Amazon, livros na categoria ?Pais e relacionamentos? somam mais de 220 mil.

Formas de educar pelo mundo têm sido o objeto de pesquisa, desde a década de 1970, para a antropóloga americana Sara Harkness, da Universidade de Connecticut. Junto com o marido, também pesquisador da universidade, Sara morou por anos em países como Holanda e Quênia ? onde nasceu, inclusive, a primeira dos quatro filhos do casal? em busca de diferentes modelos culturais para a criação de crianças. A eles, o casal deu o nome de ?etnoteorias parentais?.

? São exemplos em que um grupo compartilha ideias sobre o lugar dos pais, dos filhos, da família, do desenvolvimento… E muitas delas são implícitas, mas estão em situações como: quando o bebê chora à noite, você o pega no colo logo? Ou volta a dormir, deixando-o chorar? ? exemplifica Sara, ressaltando, porém, que seu trabalho não busca generalizar características de países. ? Existe um contraste muito grande entre culturas em questões por exemplo como segurar bebês no colo. Há, na Coreia e na África, por exemplo, uma forte ideia de que bebês devem ser segurados no colo bastante, estar fisicamente próximos. Outro ponto que traz bastante diferenças culturais é o planejamento do sono: alguns grupos acreditam que as crianças devem dormir perto da mãe, mas em países como nos Estados Unidos, outros defendem que os bebês devem ficar em camas e quartos separados.

Nuances como estas, e outras até mais surpreendentes, estão no documentário francês ?Bebês?, do diretor Thomas Balmès, que acompanhou a vida de quatro bebês, por um ano, na Mongólia, Namíbia, Estados Unidos e Japão.

Para Sara, o interesse de pais por produtos que retratam as diferentes formas de educar pelo mundo correspondem ao intenso processo de globalização:

? Em época de rápidas transformações sociais, as pessoas estão confiando menos no que elas aprenderam durante seu próprio crescimento.