Cotidiano

Com Aleppo sob combates, Assad diz que fim da guerra depende de Trump

NOVA YORK/GENEBRA – Enquanto a ONU advertiu que os ataques que vêm matando centenas de civis em Aleppo seriam crimes de guerra, novos combates na maior cidade síria fizeram a retirada de combatentes e famílias ser suspensa na quarta-feira. O presidente Bashar al-Assad, que ganhou força com a aparente retomada da metrópole, disse que a solução para o conflito civil depende da vontade do presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

? Não haverá cessar-fogo enquanto não houver acordos claros de trégua onde os terroristas declarem intenção de se render ou ir embora ? disse Assad a uma TV russa.

O presidente sírio citou Trump como peça crucial para resolver o conflito no país. Antagonista de Barack Obama, ele espera uma cooperação com os EUA para consolidar sua vitória na guerra.

? Durante a campanha eleitoral de Trump, suas declarações sobre a luta ao terrorismo e à ingerência em outros países para derrubar governos foram muito claras. Isso é muito bom. No entanto, tudo depende de sua vontade de continuar nesta direção ? avaliou Assad. ? Se Trump puder lutar de maneira genuína contra o terrorismo, poderia ser nosso aliado.

Intensos combates foram retomados nesta quarta-feira entre os soldados e os rebeldes em Aleppo, onde as esperanças de retirada rápida de milhares de civis famintos e doentes caíram por terra. A Rússia acusou os rebeldes de ter reiniciado as hostilidades, depois de várias horas de trégua, enquanto a Turquia, que apoia a oposição, culpou as tropas do regime e seus aliados. A tragédia de Aleppo

Após uma pausa de várias horas, os ataques aéreos e os disparos de artilharia das tropas pró-regime retomaram nos bairros ainda com presença dos insurgentes, no sul da cidade. Um jornalista da AFP na área rebelde viu um tanque do regime disparar contra os insurgentes, bem como civis feridos e outros presos em edifícios. Outro corriam pelas ruas em busca de abrigo.

“A situação é terrível em Aleppo”, escreveu o ativista Mohammad Al-Khatib, contactado pela AFP via internet. “Os feridos e os mortos estão nas ruas, ninguém se atreve a retirá-los”.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou sobre a morte de ao menos dez pessoas mortas nas áreas rebeldes. Além disso, ao menos sete civis morreram por disparos rebeldes contra dois bairros em mãos do governo, segundo a TV pública síria.

? O governo sírio tem uma responsabilidade clara de garantir que seu povo está seguro, e está claramente falhando em fazê-lo ? disse o chefe de Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra’ad al-Hussein, dizendo que os bombardeios podem constituir crimes de guerra. Retirada de civis de Aleppo é suspensa e combates recomeçam

EXPECTATIVAS FRUSTRADAS

Antes do reinício dos bombardeios, milhares de civis fizeram filas à espera de poder deixar as áreas rebeldes. No distrito de al-Mashhad, uma multidão de civis, carregando objetos pessoais, se reuniram nas ruas às 5h00, de acordo com um jornalista da AFP. Entre eles estavam muitas crianças mal vestidas, tremendo por causa do frio de cerca de 4 graus durante o dia e 3 negativos à noite.

Muitos moradores passaram a noite nas calçadas, por falta de abrigo, enfrentando o frio e a chuva. De manhã cedo, vinte ônibus estacionaram no área sob controle do regime do bairro Salaheddine, segundo a AFP. Mas o acordo de evacuação, que deveria entrar em vigor às 03h00 GMT (01H00 de Brasília), foi “suspenso”, de acordo com os beligerantes.

Segundo um oficial rebelde, o regime e seus aliados, principalmente os iranianos, “impuseram novas condições”, enquanto uma fonte próxima ao poder de Damasco argumentou o desacordo sobre o elevado número de pessoas evacuadas.

CONQUISTA CRUCIAL PARA ASSAD

O acordo de retirada foi anunciado após quatro semanas de intensos bombardeios do regime que devastaram a parte Leste de Aleppo e após o clamor internacional provocado pelas atrocidades supostamente cometidas contra civis nos bairros cujo controle foi retomado pelo exército sírio.

O acordo de evacuação firmado sob mediação de Moscou e Ancara visava permitir que civis, combatentes opositores e suas famílias deixassem a cidade, agora quase sob o total controle das forças do regime.

A conquista total de Aleppo, dividida desde 2012, permite ao governo de Bashar al-Assad controlar as cinco maiores cidades da Síria, junto a Homs, Hama, Damasco e Latakia. Uma conquista que não teria sido possível sem a ajuda de Moscou, aliado de Damasco e ativo na Síria desde setembro de 2015.