Cotidiano

Brexit eleva urgência de testes do Fed para bancos estrangeiros

WASHINGTON – Banqueiros têm um novo ano a temer: 2018. É nesse ano que o Reino Unido poderia concluir sua saída da União Europeia, o que possivelmente revelará a total dimensão das consequências para os credores entrincheirados em Londres. Também é o ano em que os bancos europeus terão que se organizar nos testes anuais de estresse do Federal Reserve (Fed) para evitar que uma parte de seus lucros fique travada do outro lado do Atlântico.

As últimas avaliações feitas pelo Fed da capacidade dos bancos de aguentar uma crise financeira sairão na quarta-feira. As unidades americanas do Deutsche Bank e do Banco Santander foram as únicas reprovadas de 31 empresas testadas em 2015. Embora alguns bancos estrangeiros possam voltar a reprovar nesta semana, esse tipo de tropeços terá um impacto muito maior daqui a dois anos.

? Todo o processo para os bancos estrangeiros será um pouco acidentado por um tempo ? disse Oliver Ireland, sócio do escritório de advocacia Morrison & Foerster em Washington.

Problemas com testes de estresse têm sido frequentes para os bancos estrangeiros, mas não muito significativos ? exceto no caso do Santander, que foi sujeito a um processo de execução por emitir dividendos não autorizados em 2014. Como apenas um pequeno número de credores estrangeiros está sujeito aos exames atualmente, o impacto sobre as empresas não americanas foi limitado. Além disso, as operações avaliadas tendem a ser estreitas.

Mas tudo mudará em 2017, quando o Fed começar a avaliar todas as divisões americanas de todos os grandes bancos estrangeiros e incluir pela primeira vez empresas como o Credit Suisse Group, o Barclays e o UBS Group.

Porta-vozes dos bancos preferiram não comentar.

Após os ensaios gerais do ano que vem, os resultados dos bancos estrangeiros começarão a importar de verdade em 2018 ? a primeira vez em que eles serão divulgados. Se uma empresa for reprovada, o Fed pode impedi-la de enviar bilhões de dólares em receita de para suas controladoras europeias.

Haverá ainda mais em jogo porque os credores estão recorrendo aos EUA para ajudar a compensar os lucros que eles poderiam perder no Reino Unido após a inesperada decisão tomada pelos eleitores na semana passada de sair da UE.

Analistas do JPMorgan Chase & Co. estimaram na semana passada que a Brexit poderia reduzir em 20% os lucros dos bancos expostos ao Reino Unido, com um impacto de 17% nos lucros antes de impostos para o Deutsche Bank e de 21% para o Credit Suisse. A saída do Reino Unido poderia eliminar ? 32 bilhões (US$ 35,4 bilhões) dos lucros dos bancos europeus até 2018, um declínio de 11% em relação ao que os lucros seriam sem o choque econômico, disseram analistas do Goldman Sachs Group em uma nota a clientes nesta terça-feira.

Contudo, obter uma nota baixa no primeiro teste não necessariamente significa muito. A subsidiária do Deutsche Bank foi reprovada em uma das partes, a Análise e Revisão Integral do Capital (CCAR, na sigla em inglês), no ano passado, mesmo tendo uma das maiores quantidades de capital, porque não convenceu o Fed no segundo obstáculo que cada banco deve superar: que sua gestão de riscos é boa o suficiente para atravessar uma crise.