Cotidiano

Boo Aguilar, pesquisador: ?Realidade virtual amplia capacidade de produzir?

?Sou paulistano, tenho 27 anos e me formei em
Comunicação pela PUC de São Paulo. Sou desenvolvedor de processos de interação
homem-máquina. Em resumo, trabalho com projetos na fronteira entre tecnologia,
filosofia, ciência e artes, passando por temas como bioengenharia e inteligência
artificial.?

Conte algo que não sei.

Em algum momento, vamos eliminar doenças sistêmicas como o câncer, o diabetes
e até o envelhecimento. Depois, vamos ter o poder e a responsabilidade de usar
as tecnologias para transcender nossas limitações biológicas. Não existe
separação entre nós, nossas tecnologias e o resto do universo e a realidade.

Para que serve realidade virtual, ou como você diz, realidades
mistas, hoje em dia?

Uma coisa que pouca gente sabe é que tecnologias imersivas têm sido usadas
pela indústria desde os anos 1990. Hoje, a gente usa computadores para construir
outros computadores, o que me fez voltar a atenção para a realidade virtual. Não
que 50 abas sejam muita informação, é que temos uma tela pequena para lidar com
elas. Se você usa o mundo ao seu redor como usa a área de ferramentas, de
interação, de ampliação de capacidade cognitiva, você consegue elevar seu nível
cognitivo. A realidade virtual, como também a realidade aumentada, amplia muito
nossa capacidade de aprender e produzir. Se você usar apenas uma tela para ver o
DNA inteiro de uma bactéria, por exemplo, você nunca conseguirá alcançar o
objetivo. Em uma mídia imersiva, você joga o DNA e consegue ver o panorama
geral. Então, de certa forma, essas tecnologias já estão presentes nas áreas de
saúde, educação e engenharia.

A realidade virtual, assim como toda tecnologia, tem seus
benefícios. Há também malefícios?

Sim. Jason Silva (diretor de vídeo e futurista
venezuelano que vive em Nova York) tem uma visão de que a tecnologia, por si só,
não é boa ou ruim. O fogo é usado no preparo de alimentos, mas também para
queimar pessoas. O fogo, por si só, não é bom ou ruim. Steven Pinker (psicólogo
e linguista de Harvard) tem um argumento que desmonta qualquer tecnofobia. A
gente fala em inteligência artificial, e as pessoas lembram da Skynet
(inteligência artificial do filme ?O exterminador do futuro?). O que acontece é
que o bom uso da tecnologia rende muito mais que o mau uso.

Realidade virtual e realidade aumentada são tecnologias que estão
nos filmes desde os anos 1980. Por que só agora têm se tornado mais acessíveis
ao público?

Computadores eram muito caros. Há 15 anos, não tínhamos
GPS. As telas eram caras, a tecnologia era de tubo. Agora temos LED. Essa
miniaturização está permitindo a massificação. Muito mais rápido do que a gente
imagina, teremos celulares com sensores de hololens (dispositivo de
realidade aumentada da Microsoft). Será o caminho para que a gente se acostume
com a realidade virtual.

Então já temos ferramentas que podem elevar nosso entendimento e
nossa interação com o mundo virtual?

Com o mundo real. Há um conceito da filosofia que diz que
o mundo real está comprimido em qualquer tipo de mídia. Mas você nunca vai
conseguir reproduzir totalmente o mundo real em nada, seja um jogo de computador
ou um filme. É uma tremenda besteira dizer que, com a realidade virtual, vamos
viver em mundos simulados perfeitos. A realidade aumentada se apropria do mundo
real, da riqueza dele. Mas o que é da nossa cognição não está lá.