Cotidiano

Atom Egoyan é homenageado em mostra no Rio

RIO ? Nascido no Cairo, no Egito, Atom Egoyan se mudou para o Canadá nos anos 1960, onde desde então realiza longas caracterizados por narrativas não lineares e temas como a natureza da sexualidade humana e os efeitos de injustiças. O diretor, hoje, é autor de uma filmografia premiada que é revisitada numa mostra em cartaz na Caixa Cultural até 9 de outubro. Aos 56 anos, ele se diz inspirado pelo cinema contemporâneo, incluindo o brasileiro, destacando o pernambucano Kleber Mendonça Filho.

Alguns de seus filmes mais famosos envolvem um personagem imbuído da missão de solucionar um dilema alheio. Em ?O doce amanhã? (1997), indicado ao Oscar de direção e roteiro adaptado, um advogado (Ian Holm) é enviado a uma cidadezinha para lidar com famílias que perderam seus filhos num recente acidente. Em ?Exótica? (1994), que disputou a Palma de Ouro em Cannes, um pai (Bruce Greenwood) de luto pelo assassinato da filha encarrega um homem (Don McKellar) de investigar os sentimentos de uma stripper por ele. Até mesmo em seu trabalho recente, ?Memórias secretas? (2015), um sobrevivente do holocausto (Martin Landau) pede que um colega (Christopher Plummer) mate um nazista. Um traço comum dos roteiros é a presença de relações intermediadas por terceiros.

? Ao mesmo tempo em que esses personagens são mediadores, também são protagonistas involuntários. Isso coloca o espectador numa posição desconfortável: em quem prestar atenção? ? diz o cineasta ao GLOBO. ? Sempre me pareceu correto desafiar as fórmulas.

ELOGIO A ?O SOM AO REDOR?

Um dos filmes favoritos de Egoyan é ?A cor da romã? (1969), do armênio Sergei Parajanov, e ele cita ?Quando duas mulheres pecam? (1966), de Ingmar Bergman, como uma de suas maiores influências. Mas não economiza superlativos para artistas da geração atual:

? Alguns realizadores em atividade, como Michael Haneke e Mike Leigh, são ótimos. Assim como os mais jovens, como Paul Thomas Anderson, além de cineastas mulheres, como Jane Campion. Do Brasil, considero ?O som ao redor?, de Kleber Mendonça Filho, uma obra muito forte. Em cima disso, existe a excelência da TV. Para mim, ?The wire? é uma obra-prima, e muitas séries parecem mais interessadas nos seres humanos do que a maioria dos filmes sendo feitos atualmente:INFOCHPDPICT000061753806.

Depois de explorar diferentes abordagens ? de histórias humanas intimistas ao genocídio armênio ?, Egoyan diz sentir vontade de filmar uma trama em outra língua. Ele avisa que está trabalhando nisso, sem entrar em detalhes.

Por mais bem-sucedida que tenha sido sua carreira, houve tropeços. A sua primeira produção totalmente americana, ?Sem evidências? (2013), com Colin Firth e Reese Witherspoon, foi considerada pela crítica como uma tentativa banal de explorar um crime. Em seguida, ?À procura? (2014), com Ryan Reynolds e Rosario Dawson, chegou a ser vaiada em Cannes. O cineasta minimiza os ataques:

? ?À procura? foi destruído em Cannes, mas se saiu muito bem nas plataformas digitais. Sou muito feliz com a filmografia que produzi. Acho que ?Krapp?s last tape? (2000), que adaptei da peça de Samuel Beckett, merece ser mais visto. É o melhor monólogo dramático jamais escrito.

?Atom Egoyan ? a realidade distorcida do cinema egípcio?

Onde: Caixa Cultural ? Av. Almirante Barroso, 25 (3980-3815). Quando: De ter. a dom. Consultar a programação. Até 9/10. Quanto: Grátis.