Cotidiano

'As pessoas se interessam pelo valor do conteúdo', diz Erick Brêtas

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A Globo já vem experimentando a TV Everywhere há algum tempo, com o
Globo Play. Com base nessa experiência, é possível notar alguma
diferença entre os hábitos de consumo de vídeo on-line e da TV linear?

Sim!
A TV linear dá a impressão de hora marcada para assistir. Isso é muito
importante para eventos esportivos, o próprio jornalismo, com coberturas
factuais, e a programação ao vivo. No nosso caso, a novela também é
muito importante, por causa do ritmo diário. Perder um capítulo, faz com
que o espectador fique desatualizado. Elas também são geradoras de
conversa virtual, o consumo simultâneo permite que as pessoas conversem
em tempo real. Os reality shows e outros programas interativos também
têm bastante apelo na TV linear. Esses elementos tornam, e vão continuar
tornando consumo linear da televisão muito importante.

Agora,
existem outros tipos de consumo. As séries, por exemplo, podem passar
por uma experiência de consumo diferente, com o espectador aproveitando o
tempo livre para assistir. Nós já conseguimos observar isso. Para esse
tipo de conteúdo, no qual o consumo linear não é essencial, a gente
percebe as pessoas se interessando pela transmissão on-line

O formato de programa consagrado da TV linear tem se mostrado compatível com o ambiente on-line?

Totalmente.
Eu acho que existe uma regra muito válida para a indústria. Quanto
maior for o tempo de duração do conteúdo, maior será a tela onde ele
será consumido. Uma cena de novela ou uma reportagem do telejornal
combinam bem com os smartphones. Mas se quiser assistir o capítulo
inteiro de uma novela, o consumidor vai procurar uma tela maior. Aí
entram as smart TVs. Quatro anos atrás, o mundo acordou para a
importância do smartphone, agora está acordando para a smart TV. A gente
tem cerca de 500 mil downloads para smart TVs no Google Play, e o tempo
que as pessoas levam assistindo é muito maior que no computador e no
smartphone. O consumo médio em cada sessão é de 45 minutos, mais ou
menos um capítulo de novela.

Nunca se assistiu tanto vídeo na
história da Humanidade. Isso é fato. Mas como conseguir alcançar a
audiência em meio a tanta concorrência?

Não tem nenhum
segredo: é o valor do conteúdo. As pessoas vão ter mais interesse no
conteúdo que tem mais relevância. Isso vai variar de acordo com o gosto
da audiência. Varia para os diferentes públicos, de diferentes idades,
regiões, mas essencialmente é o valor que ele apresenta para o
consumidor. O Twitter, por exemplo, tem uma ferramenta de transmissão ao
vivo que não pegava. Qual o interesse do consumidor para um garoto que
faz uma transmissão do seu dia a dia? Talvez interesse para os amigos,
os vizinhos, os familiares, mas só. Nesse sentido, o Twitter assinou
acordos com a NHL e MLB para acrescentar valor para o ao vivo.


que tocou neste ponto, a entrada de plataformas digitais, como Twitter e
Facebook, entrarem no campo das transmissões ao vivo pode aumentar a
concorrência para as emissoras de TV?

Eu acho que tudo traz
concorrente para a TV. Os produtos de mídia, todos enfrentam um cenário
de grande concorrência. É a concorrência por atenção, não apenas de
veículos dentro da própria categoria. Hoje, nós, da TV Globo, vocês, do
jornal O GLOBO, o pessoal das plataformas digitais, todos disputam pela
atenção do consumidor. Ele continua tendo 24 horas por dia, precisa
estudar, trabalhar, ficar com a família, dormir. Mas cada vez mais
criamos novas oportunidades de entrega de mídia para ele. O smartphone
foi um game changer. Aumentou a possibilidade de consumo de mídia. No
deslocamento para o trabalho, na fila de banco, no intervalo do almoço.
As pessoas nunca consumiram tanta mídia quanto hoje, isso é bom. Por
outro lado, nunca houve tanta concorrência por atenção nesse palco.