Cotidiano

As diferentes características do Taiti, território ultramarino francês

PAPEETE – Do meio dos arbustos, surge o rosto arredondado de um homem de traços asiáticos. Ele avança. A estatura é baixa. Chama a atenção o pequeno abacaxi que traz nas mãos, mãos sujas da terra que está arando. Caminha em nossa direção e entrega a fruta para uma colega do grupo. Não diz uma só palavra. Mas, desse jeito, contesta o comentário que ele ouvira de seu terreno, minutos antes: nosso guia dissera que o plantio daquela espécie não dera certo ali no Mont Marau, por causa do solo, sempre encharcado.

Além de mostrar que tivera algum sucesso na lavoura de abacaxi, o taitiano de origem chinesa estava sendo gentil: afinal, a colega tinha enfatizado, pro grupo, que adorava a fruta. Uma história simples, mas não tão corriqueira em outros cantos do mundo. Estávamos no nosso primeiro passeio em Papeete — a capital da Polinésia Francesa e de sua maior ilha, o Taiti — e já experimentávamos a delicadeza e amabilidade daquele povo do Pacífico Sul.

Território dependente da França, com estatuto de comunidade além-mar, a Polinésia Francesa fica bem no meio do caminho entre a América do Sul e a Austrália. Formada por 118 ilhas, algumas ilhotas e atóis, sua área inclui cinco arquipélagos em pouco mais de quatro mil quilômetros quadrados, dispersos num pedaço do oceano que equivale a quase um terço de Brasil. Não é pouco.

Assim como os fenícios, os polinésios também são conhecidos como o povo do mar. Orientados pela posição das estrelas, eles navegaram, descobriram e colonizaram as terras que iam encontrando pelo caminho. À área do território francês, eles teriam chegado por volta dos 200 anos antes de Cristo. Hoje, três grupos étnicos formam a população, de menos de 300 mil habitantes. Aos polinésios, se juntaram europeus (principalmente franceses) e asiáticos (principalmente chineses). Além dos mestiços, é claro.

Papeete é a porta de entrada das Ilhas do Taiti, nome pelo qual a Polinésia Francesa se apresenta no mercado de turismo. E, para ir a qualquer das ilhas, mesmo num cruzeiro, o visitante vai conhecer a capital, onde estão a maioria da população e os principais serviços do território. É ali que ficam o Le Marché, principal mercado de artesanato da cidade, e o porto, de onde saem as embarcações para as demais ilhas. Cidade vibrante, Papeete tem vida noturna agitada.

‘ia ora na’: Longa vida a você

Mas agitada, se você quiser. Resorts de redes internacionais — como os de Bora Bora e Moorea, as duas ilhas mais famosas do território — também estão na capital. E nesses resorts, depois do jantar e, talvez, de apresentações de danças típicas, o sossego é um convite à cama.

Mesmo porque, no dia seguinte, desde cedo, esportes náuticos e passeios pelos recifes da região serão as principais atividades. Excursões por áreas de montanha no entorno da cidade são outro destaque — afinal, a visão de terras verdes, cercadas de água cristalina por todos os lados, faz bem aos olhos de qualquer um.

Quer mais? No Taiti, as manifestações sociais incluem o culto ao mar, a reverência às flores e o amor à música. Na chegada, por exemplo, os visitantes são recebidos ao som de melodias locais e ganham colares de tiaré, espécie símbolo do território. Em cerimônias de pesar profundo, como a morte, uma concha é depositada no mar, flores são jogadas n’água, enquanto um cântico do Triângulo Polinésio é executado pelos presentes.

E, se você está pensando em ir até lá, a primeira coisa que vai gostar de aprender é o bom dia/boa tarde deles — na verdade, um cumprimento para ser usado a qualquer hora: ia ora na, que, literalmente, quer dizer “longa vida a você”.

Com um pé na cidade e outro na montanha

Lembrar do Le Marché, o mercado municipal de Papeete, é imaginar uma profusão de cores, tudo muito intenso e lúdico. Seja pelos enfeites de cabelo em formato de tiaré, a flor símbolo do Taiti, e de hibiscos, outra espécie local. Seja pelas frutas tropicais. Ou seja pelas embalagens de produtos típicos como sabonetes, óleos de massagem aromáticos, geleias e chás. Fato é que os estandes produzem um banho de luz e tons difícil de esquecer.

Segundo o Turismo do Taiti, o Le Marché recebe mais de 500 mil pessoas por ano. Uma escada rolante e um elevador panorâmico levam ao segundo andar de um mercado muito bem organizado. Mais que isso: confortável. Lá em cima, o restaurante Café Maeva serve deliciosos pratos taitianos típicos, como o refrescante peixe cru marinado — espécie de ceviche sem a forte acidez da iguaria peruana. Bebidas e sucos locais também agradam a clientela.

Ainda no piso superior, várias lojinhas de artesanato e panos estampados (olhe as cores aí novamente) completam o cenário. Nada é barato.

Mas sempre cabe negociar. Por exemplo, se achar que vale pagar US$ 30 por uma pulseirinha de filó, com a famosa pérola negra do Taiti no meio, ok. Agora, se tentar pechinchar, pode acabar levando duas por US$ 15. Só que tudo depende da qualidade do material. Lembrando que a preciosidade (e o valor) das pérolas varia, e muito, segundo formato, cor e perfeição: quanto mais tempo tiver ficado no mar, maior será o preço, e, nesse caso, o céu é o limite. É bom pedir o certificado de autenticidade.

De hortaliças a flores

Assim, de pérolas negras a bijuterias, vende-se de tudo no Le Marché. De frutos do mar a instrumentos musicais, de carne a flâmulas decorativas… numa variedade de produtos que faz com que observá-los se transforme num interessante tour antropológico. Mesmo se não estiver interessado na compra de lembrancinhas típicas, o visitante não perderá o passeio.

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Chegando à cidade de Faa’a, que, de tão vizinha, faz você nem perceber que saiu de Papeete, o Mont Marau é mais um dos atrativos da região. Mal comparando — afinal, falamos de dois mundos diferentes — imagine a subida do Alto da Boavista. Só que, em vez de asfalto, você estará sacolejando, numa estrada de terra. E, chegando lá em cima, vai ver um mar imenso, sim, mas sem o enclave de prédios da nossa Zona Sul do Rio.

Empresas de turismo guiam o visitante no passeio, que é feito num buggy, próprio para vencer subidas íngremes e curvas acentuadas. Um passeio de duas horas pela montanha custa US$ 150 para duas pessoas. De três horas, US$ 280. A ideia é que o turista dirija o carro.

O guia contará histórias sobre o que foi (e é) cultivado nas montanhas, o que vingou ou não. Nos sítios do Marau, por exemplo, são cultivadas tanto hortaliças quanto as flores dos colares que o visitante recebe quando chega ao Taiti. Do alto da montanha, você verá Moorea, que fica a 29km ou meia hora de catamarã da ilha do Taiti. Ah, e antes de terminar o passeio, provavelmente, numa curva e outra, você vai encontrar o sorriso de um(a) taitiano(a).

O salto alto fica em casa

Para o turista brasileiro, ir até a Oceania não é usual. Portanto, seguem informações básicas para quem está pensando em viajar até lá.

De tanto que a propaganda vende a imagem dos bangalôs sobre palafitas, hospedar-se num deles pode se tornar uma ideia fixa, certo? Então, se quiser cumprir o ritual, mas gastando menos, que tal optar por dois tipos de acomodação? Em parte da viagem, fique em quartos convencionais; e, por uma noite (ou duas), pague pelo tal bangalô, que, dificilmente, sairá por menos de US$ 500.

A diferença de horário, fora do verão, é de sete horas. A moeda local é o franco polinésio, mas tanto euro quanto dólar costumam ser bem aceitos. Na chegada ao aeroporto, é fácil fazer o câmbio. Para se ter uma ideia: € 100 e US$ 100 estão valendo, hoje, respectivamente 11,9 mil e 10,6 mil francos polinésios.

O melhor período para se viajar para as Ilhas do Taiti é entre maio e agosto, época em que chove pouco e não faz tanto calor: na média, a temperatura na Polinésia Francesa varia em torno de 27°C ao longo do ano.

Sendo assim, você só vai precisar de roupas leves. Para usar durante o dia, trajes de banho, camisetas, bermudas, vestidinho e algo como sandália havaiana. Para a noite, mais vestidinhos (um xale pode ser útil), bermudas e sandálias. Sapatilhas para o mar também não devem faltar na mala. Assim como chapéus ou bonés, óculos escuros, hidratante e protetor solar. Saltos e roupas chiques? Deixem em casa.

A voltagem padrão é 220, e é bom levar adaptadores (de dois pinos retos) para os celulares e as câmeras. Por fim, bom saber que a maioria dos grandes resorts costuma oferecer wi-fi de graça (com ótima conexão). Mas alguns cobram taxa extra.

SERVIÇO

Onde ficar

Manava Resort. Diárias de casal a partir de US$ 298. Punaauia 98.703. spmhotels.com/resort/tahiti

Hotel Tahiti Nui. Diárias a partir de US$ 170. Ave du Prince Hinoi, Centro de Papeete. hoteltahitinui.com.

Montanha e mar. O passeio pelo Mont Marau e diferentes atividades náuticas podem ser contratados à Tahiti Jetski. [email protected]

Le Marché. Aberto de segunda a sábado até as 18h. Domingo, até 9h.

Léa Cristina viajou a convite de Tahiti Tourisme e Air Tahiti Nui