Cotidiano

Artigo: 'A imagem do Brasil pós-impeachment', por Adriana Carranca

carranca.jpg Esta quarta-feira entra para a História sem o Brasil realmente fazer História. No cenário internacional, chegamos ao dia de hoje como sempre fomos, uma República das Bananas. O país do vale tudo, com problemas estruturais profundos, politicamente instável, visto com cautela pela comunidade internacional.Os bastidores do cenário político que levaram ao processo de impeachment deixaram dúvidas sobre sua legitimidade. Ao mesmo tempo em que o escândalo envolvendo a Petrobrás e a maior crise da economia em décadas afetaram a credibilidade comunidade internacional no governo da presidente Dilma Rousseff, a condução do impeachment expôs o Congresso, desmoralizado e corrupto, e evidenciou problemas estruturais do Brasil, sem solução no curto prazo. Impeachment repercute

O impeachment não deve restaurar a confiança externa no Brasil. É provável que a imagem simbólica deste processo traumático que ficará para a História será a da emblemática votação por sua abertura na Câmara. Ecoarão através do tempo os discursos que acompanharam os votos dos congressistas ? ?pela família?, ?por Deus?, pela ?paz em Jerusalém?. Poucos se lembravam dos motivos do processo. Todos já conheciam o último ato desse teatro de horror, apesar da condução para garantir ao processo legitimidade legal. E isso não passou despercebido pela comunidade internacional.

O afastamento da presidente não muda o sistema político fragmentado, que permite a existência de 27 partidos preocupados com a própria relevância e sobrevivência. Não significa nem mesmo mudança de governo. O PMBD está no poder desde a redemocratização, governando da coxia. Apenas assume agora a posição de protagonista. Na prática, nada muda.

O déficit orçamentário, gastos públicos fora de controle, corrupção endêmica, desigualdade, ilegalidade, violência e outros problemas estruturais que distanciam o Brasil do modelo de um país desenvolvido, aos olhos do mundo, não vão embora com a presidente, porque não são exclusivos de seu governo.No curto prazo, com o envolvimento da cúpula do PMDB, alvo da lava-jato, nos mesmos escândalos que arruinaram a imagem do Brasil junto a investidores, é improvável que o governo Temer consiga restaurar a imagem do Brasil e a credibilidade do mercado externo.

O mundo continuará nos vendo com desconfiança.

No curto prazo, não há perspectiva de mudanças estruturais. A prometida reforma da previdência, considerada imprescindível para a retomada da economia, está longe de ser concretizada. Não existe ainda um projeto de reforma para encaminhamento ao Congresso.

No longo prazo, a reforma política que, aí sim, representaria mudança histórica real para o Brasil e sua imagem no exterior não está em discussão.

Existe um risco de que o impeachment legitime o sistema político corrente e fortaleça aqueles que têm interesse em manter tudo como está, o que é perigosíssimo para o país.

Além disso, a posse definitiva de Temer ocorre à revelia do desejo da população, que quer novas eleições. No último século, somente cinco presidentes eleitos pelo voto popular no Brasil concluíram seus mandatos.

Hoje, mais uma vez, o governo muda para o Brasil continuar o mesmo.