Cotidiano

Antigos aliados de ACM atuam em campo adversário de neto

14379775_1217207398344378_928963208515249645_o.jpgSALVADOR – Aliados fiéis do ex-senador e ex-governador Antônio Carlos Magalhães, carlistas históricos passaram a atuar, com a morte do padrinho político, em 2007, em campo oposto ao do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que tenta a reeleição neste domingo.

Um dos homens de confiança do “velho”, como antigos aliados se referem a ele, o senador Otto Alencar (PSD) se aliou ao PT em 2010, quando Jaques Wagner tentava a reeleição para o governo da Bahia, depois de quebrar uma hegemonia de décadas de carlismo no Estado. A convite de Wagner, o senador concorreu – e venceu – como vice-governador na chapa petista naquele ano. Em 2014, foi eleito senador na coligação do PT. Ele diz que tem com Neto uma relação “civilizada”, mas ressalta que sua aliança era com ACM, com quem fez política por 19 anos:

Eleições Salvador – 30.09? Com a morte dele eu não tinha compromisso com absolutamente mais ninguém. Fique uns anos fora da política e resolvi voltar na aliança com o PT, até porque eu nada devia a (Paulo) Souto (ex-governador) ou Neto, a minha aliança era com o velho, tanto que, enquanto ele foi vivo, nunca fiz nada contra ele ? contou ao GLOBO o senador.

Alencar fez elogios à gestão de ACM Neto na capital baiana, mas criticou a aliança que fez com inimigos políticos do avô, dentro e fora do antigo PFL, hoje Democratas. Cita o PMDB do ministro Geddel Vieira Lima e o hoje presidente do DEM na Bahia, José Carlos Aleluia, além do ex-governador Paulo Souto, também do DEM, cuja relação com ACM azedou em certo momento. Para o senador, o prefeito “não olhou para trás”:

? ACM Neto se elegeu prefeito e trouxe todo mundo, não olhou para trás, só olhou para o presente e perdoou Aleluia, Paulo Souto e até Geddel, que foi o grande inimigo de ACM, ele agredia Antônio Carlos com as palavras mais duras que eu conheço. E hoje Neto é líder desses todos ? disse.

Otto Alencar segue fazendo política em campo adversário ao de Neto – o PSD apoia o governador petista Rui Costa, sucessor de Jaques Wagner – e exaltou os frutos da aliança com o PT:

? Tenho uma boa relação com Wagner, foi muito positiva minha aliança para a Bahia.

Outro personagem do carlismo que “debandou” foi o ex-ministro e ex-vice-presidente do Banco do Brasil César Borges, hoje presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ACBR). Borges foi governador da Bahia em 1998, tendo Otto Alencar como vice, numa chapa articulada por ACM. Depois da morte do ex-senador, em meio à brigas de poder pelo controle do DEM, trocou a legenda pelo PR, partido que se aliou ao PT, o que lhe credenciou para ocupar o Ministério dos Transportes em 2013, no primeiro governo Dilma Rousseff. Em 2014, também esteve à frente da Secretaria de Portos. Ele diz que a aliança de seu partido era com o PMDB do então vice-presidente Michel Temer.

? Não fiz aliança com o PT, representei o PR no governo federal. Fui ministro do PT porque nós apoiamos o PMDB, que estava na chapa da presidenta Dilma ? afirmou ao GLOBO o ex-ministro, negando que seja adversário político de ACM Neto:

? Absolutamente. Hoje fico à distância, observando a cena política, mas eu tinha relação de amizade com Neto, não me coloco como oposição a ele ? contou.

Borges e Otto Alencar concordam que o prefeito de Salvador não busca ser o herdeiro do carlismo – ele pouco fala do avô nas campanhas, além de usar mais o “Neto” que o “ACM” do nome que herdou do avô.

Para o ex-ministro, o prefeito fez bem em não ficar “estático” e formar novas alianças.

? Na vida tudo muda, não tem isso de ficar muito preso à herança do carlismo. Não há nada parecido com o getulismo, o brizolismo. E Neto faz isso habilmente, fez outras alianças que não estavam no rol do carlismo, ele teve essa visão de não trazer mágoas do passado ? disse.

Alencar acredita que hoje Neto trilha um caminho próprio, o “netismo”, mas que sem dúvidas herdou eleitores e musculatura política do avô.

? Acho que ele busca uma identidade própria, talvez querendo criar o ‘netismo’, substituindo o carlismo, embora a figura do ACM ainda seja muito forte. Neto tem muito talento, mas ele sabe, como sei e sabe o povo da Bahia, que ele deve muito às três letras, ACM. Se ele não tivesse esse nome talvez não chegasse tão rápido ao topo do poder em Salvador.