Cotidiano

Análise: pela tradição, 'Joaquim' pode agradar no Festival de Berlim

Links Festival de BerlimRIO ? O primeiro longa-metragem brasileiro premiado em Berlim foi ?Os fuzis? (1964), de Ruy Guerra, sobre soldados enviados pelo governo para combater uma população faminta que tentava saquear um mercado na Bahia. Era um retrato da tragédia brasileira, um combate à fome com armas e não com comida, e que rendeu a Ruy Guerra um Urso de Prata pela direção.

O Urso de Ouro (dado ao melhor filme) veio apenas em 1998, com ?Central do Brasil?, de Walter Salles, sobre o menino pobre que deixa o Rio para tentar reencontrar o pai no sertão nordestino. Pelo mesmo filme, outro retrato da tragédia nacional, Fernanda Montenegro foi eleita a melhor atriz do festival. Antes dela, Marcélia Cartaxo havia levado o prêmio ao encarnar uma retirante nordestina tentando a vida em São Paulo, novamente um drama bem brasileiro, em ?A hora da estrela?, de Suzana Amaral (1985).

Já o segundo e último Urso de Ouro do Brasil veio em 2008, com ?Tropa de elite?, de José Padilha. O filme causou impacto sobre o júri ao mostrar a guerra contra o tráfico do ponto de vista de um policial violento, porém incorruptível. Foi, mais uma vez, um olhar sobre a tragédia.

Tem sido assim quase sempre em Berlim: os filmes brasileiros selecionados para a competição contam histórias sobre os muitos problemas do país, são visões sobre nossa sociedade fragilizada por décadas de mazelas.

Neste ano, com ?Joaquim?, várias dessas mazelas serão reunidas numa única história. Marcelo Gomes promete condensar séculos de busca pela tal ?liberdade ainda que tardia?, como era o lema da Inconfidência Mineira. Pela tradição política de Berlim ? o próprio festival foi criado em 1951 para ajudar na recuperação do pós-Guerra ?, pode muito bem agradar aos alemães.