Cotidiano

Alckmin oferece cargos no governo por apoio a João Doria

SÃO PAULO — Já pensando em seus planos de ser candidato a presidente da República em 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), entregará secretarias que, juntas, administram mais de R$ 2 bilhões do Orçamento estadual a partidos aliados, em troca de apoio a seu candidato à prefeitura paulistana, o empresário João Doria.

Os acordos foram feitos para garantir a Doria a maior fatia do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, tentando torná-lo competitivo. Em pesquisa Datafolha divulgada anteontem, Doria aparece com apenas 6% das intenções de voto.

Hoje, o governador dará posse a um dirigente do PP como secretário do Meio Ambiente. O partido estava afastado da gestão Alckmin desde 2012, quando decidiu apoiar o PT na eleição municipal, numa aliança entre o deputado Paulo Maluf e o ex-presidente Lula.

Agora, o PP retorna ao governo paulista, sob as bênçãos do presidente nacional da legenda, senador Ciro Nogueira, e ocupando um posto cobiçado: a Secretaria do Meio Ambiente tem orçamento de R$ 1,2 bilhão para este ano e controla o órgão responsável pelo licenciamento ambiental de empreendimentos em todo o estado. A pasta estava nas mãos de uma técnica na área desde o início do atual mandato.

Outro aliado de Doria que saiu das conversas com Alckmin com um espaço no governo estadual é o nanico PHS. O partido, que nunca orbitou no entorno de Alckmin, teve a garantia do tucano de que assumirá a Secretaria de Turismo. O embarque do PHS na campanha de Doria e no governo surpreendeu, já que o partido sempre fez oposição ao PSDB e ao PT. A pasta do Turismo tem sido usada por Alckmin como porta de entrada de partidos menores no governo.

O PMB, que também embarcou na campanha de Doria, dividirá a pasta com o PHS. Atualmente, o Turismo está com o PV, mas este, também nas negociações para se unir a Doria, conseguiu um upgrade. Vai administrar a Cultura, que tem duas vezes o orçamento do Turismo: R$ 822 milhões.

Ao todo, Doria tem sete partidos aliados na sua coligação. Os três restantes — DEM, PPS e PSB — já ocupam postos na administração Alckmin. O interesse demonstrado por Alckmin nas articulações eleitorais deste ano destoa da postura discreta e comedida que ele sempre adotou em disputas anteriores.

— Pela primeira vez vi o governador tão explícito nessas ações. Ele era mais recatado — resume um ex-tucano.

Um aliado de Alckmin completa:

— Ele cedeu mais nessa articulação para a campanha do Doria do que na negociação de aliados para a própria reeleição, em 2014.

O governador, porém, nega o usa da máquina para fortalecer o afilhado político.

— Não têm nenhuma relação (a entrega de secretaria e o apoio eleitoral). O Partido Verde faz parte do nosso governo desde 2011, e o PP já participou conosco quando indicou o presidente da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) — disse Alckmin.

O empenho do tucano para viabilizar a candidatura de Doria tem como pano de fundo a eleição presidencial de 2018. Alckmin disputou a Presidência em 2006 e perdeu para Lula. Agora, governador reeleito, ele não vê opção para o seu futuro político que não seja fazer nova tentativa.

Uma vitória de Doria colocaria o governador em posição privilegiada na disputa dentro do PSDB pela candidatura. Uma derrota o poria em desvantagem na briga com os senadores Aécio Neves e José Serra.

— Tenho conversado com o governador desde que assumi o partido, em junho de 2015. Uma participação no governo não é só um projeto para 2016, mas para 2018 — disse o presidente do PP em São Paulo, deputado Guilherme Mussi, no dia em que anunciou apoio a Doria.