Cotidiano

Ação da Via Varejo dispara 14% com interesse de compradores

SÃO PAULO – A indicação de que as negociações para a venda da Via Varejo avançaram e de que um terceiro interessado no negócio entrou na disputa fizeram com que as ações da companhia de eletroeletrônicos disparassem ontem na Bolsa de Valores de São Paulo. As units da empresa (conjunto de ações negociadas em grupo) subiram 14,29%, enquanto os papéis do Grupo Pão de Açúcar (GPA), que detém 43,3% do capital da Via Varejo, subiram 6,03%.

O GPA divulgou, na quarta-feira à noite, o segundo comunicado ao mercado, em menos de 20 dias, informando que o Conselho de Administração da companhia autorizou a diretoria a dar prosseguimento à venda de sua participação na Via Varejo (rede de eletroeletrônicos que reúne Ponto Frio e Casas Bahia).

Para os analistas do Credit Suisse, a divulgação de um comunicado adicional indica ?que, entre 3 de novembro e agora, a empresa pode ter recebido algumas indicações preliminares de interesse?. Já um relatório da Guide Investimentos afirma que, apesar de a intenção do GPA de sair do negócio de eletroeletrônicos já ser conhecida, a venda ainda não parece totalmente precificada nas ações, o que levou à alta dos papéis.

PROBLEMAS DE GESTÃO

Fontes que acompanham as negociações confirmam que o grupo chileno varejista Falabella também mostrou interesse na Via Varejo. Ele se junta a Lojas Americanas e Steinhoff International, empresa de origem alemã com sede na África do Sul, que são apontados como potenciais compradores e que, segundo fontes, já teriam iniciado conversas com o Pão de Açúcar. Com rede de quase mil lojas, além de um braço de e-commerce, a Via Varejo acumula prejuízo de R$ 170 milhões até setembro, invertendo lucro líquido de R$ 184 milhões no mesmo período de 2015.

Para Ana Paula Tozzi, presidente da AGR Consultores, especializada em varejo, a operação da Via Varejo faria mais sentido para a Lojas Americanas. A informação de que os chilenos estariam interessados é uma surpresa.

? O grupo chileno já opera no Brasil no segmento de material de construção, através da Dicico, que comprou em 2013, e das lojas Sodimac, um setor que teve prejuízos em 2015 e provavelmente terá também este ano. Portanto, não faz sentido aplicar seu caixa, ou tomar dívida, para investir num segmento que eles não conhecem no Brasil, e que também é afetado pela crise ? diz ela.

Além de Chile e Brasil, a rede Falabella tem operações na Argentina, no Uruguai, na Colômbia, no Peru e no México. E atua no varejo, com supermercados, shoppings centers e lojas de utilidades domésticas. No Chile, onde surgiu em 1889, é considerada um modelo de boa gestão no varejo. Até setembro, a Falabella teve faturamento de US$ 9,4 bilhões, alta de 4% em relação ao mesmo período de 2015.

Na avaliação de Ana Paula, a Via Varejo tem problemas de gestão, e a Lojas Americanas, que conhece bem o mercado brasileiro, poderia facilmente ?colocar a casa em ordem?. A Lojas Americanas é um dos negócios da 3G Capital, controlada pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que atuam globalmente no ramo de bebidas e alimentos. Além de estar de olho na Via Varejo, a Lojas Americanas manifestou recentemente interesse em participar do processo de compra de participação na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. Nos três primeiros trimestres do ano, a Americanas acumula prejuízo de R$ 43,9 milhões ante um lucro de R$ 46 milhões nos mesmos meses de 2015.

Já em relação ao grupo alemão Steinhoff, que não tem presença no Brasil, a dificuldade em operar a Via Varejo seria ainda maior que a dos chilenos.

? A complexidade do nosso sistema tributário e do próprio varejo assusta qualquer um. E a Steinhoff não conhece nosso mercado brasileiro ? diz.

A Steinhoff tem mais de 2.300 lojas, além de 21 fábricas que produzem camas, colchões, móveis e artigos para banheiro e cozinha, além de vender material de construção e automóveis. Ela está presente em 20 países, na Europa, Ásia, África e Oceania. E, segundo especialistas, algumas de suas lojas têm a ?cara? da Casas Bahia. O grupo é controlado por Christoffel Wiese, um bilionário sul-africano com fortuna de US$ 6,6 bilhões, segundo a Bloomberg.

Procuradas, Falabella, Steinhoff e Lojas Americanas não fizeram comentários. O GPA informou que ?a companhia vai se pronunciar novamente conforme tiver qualquer nova decisão, conforme explicado no fato relevante?.