Cotidiano

Sister Gita, professora de meditação: 'Somos felizes, apenas nos esquecemos disso'

201607302038218594.jpg “Nasci na Índia, estudei Comércio e, por certo tempo, acreditei que tinha tudo. Quando percebi que minha vida não estava completa, busquei a espiritualidade. Assim, descobri a meditação, que ensino há 37 anos. Hoje, vivo em Los Angeles, onde desenvolvo um trabalho voltado para a paz”.

Conte algo que não sei.

Existem muitas modalidades de ioga na Índia. Eu pratico a raja, que usa a meditação e a contemplação para desenvolver a mente. Ela propõe uma concentração total no ser, ensinando-nos a ver a beleza nos outros e em nós mesmos, elevando a nossa compreensão sobre quem de fato somos. Com ela, eu passei a me conhecer e a gostar de quem sou.

Nunca se meditou tanto no Ocidente como agora. Por que, afinal, é importante meditar?

As pessoas dizem que querem meditar porque perderam o controle sobre suas mentes ou porque precisam de calma. Há muita gente estressada, e a meditação pode devolver a paz aos pensamentos. Mas o que acontece de fato é que, com a prática diária, passamos a nos concentrar em nós mesmos. Estamos muito focados no exterior, e isso anula quem realmente somos. A meditação promove um encontro com a nossa paz interior. Quando se olha para dentro, chega-se a um lugar de quietude. Quanto mais fundo se vai, maior é a serenidade. É claro que o silêncio pode ser tamanho que algumas pessoas simplesmente não querem ir lá.

As pessoas têm medo?

Sim. Geralmente ignoramos um número grande de situações e de sentimentos. No silêncio da meditação começamos a ver a realidade. Mas ela pode ser dolorosa. Há quem experimente solidão, quem ache que é difícil demais e quem decida conhecê-la. É algo que se faz passo a passo, observando e ouvindo, aceitando quem se é e experimentando. Temos muitos vícios, precisamos entrar em contato com as nossas virtudes internas e valorizá-las.

Você quer dizer que a meditação gera autoestima?

Definitivamente. A mente pode ser o nosso maior inimigo. Vivemos nos comparando aos outros e desejando coisas. Com a meditação passamos a prestar atenção nos pensamentos que criamos e aprendemos a transformá-los em algo positivo. A mudança é sempre interior. Com a prática diária é possível transformar os pensamentos rapidamente, gerando vibrações positivas.

Em uma de suas palestras, você diz que a felicidade é uma questão de escolha.

A felicidade é um estado da mente, o estar contente com si mesmo. As coisas materiais são temporárias: você compra um vestido e fica satisfeita, mas rapidamente quer comprar acessórios para combinar com ele. É um desejo que só aumenta e nunca tem fim. Você nunca será feliz assim. Mas nós somos originalmente felizes, apenas nos esquecemos disso. Todo dia pela manhã eu decido ser feliz e crio esse pensamento. Sei que os desafios me aguardam, mas digo ?tudo bem, eu consigo?.

Você consegue mesmo num mundo em crise, onde tantos direitos são violados?

As coisas acontecem de acordo com o carma de cada um, não existem garantias. Acredito que é importante deixar a mente quieta e prestar atenção aos pensamentos puros. Eu posso não dizer algo verbalmente, mas mando vibrações para um ambiente de paz e, devagar, elas acalmam tudo. É possível ajudar o outro com os seus pensamentos. É claro que certas situações exigem uma acumulação de pensamentos positivos. Por isso, a prática diária é importante. Para os iniciantes, um professor é fundamental.