LONDRES ? A controversa, mas promissora técnica de concepção in vitro de bebês com o DNA de três pessoas recebeu o sinal verde do órgão regulador do Reino Unido. Em fevereiro do ano passado, a terapia de substituição mitocondrial foi legalizada pelo congresso britânico; e agora, a Autoridade de Fertilização e Embriologia (HFEA, na sigla em inglês) regulou o tratamento, que pode ajudar famílias a prevenir doenças genéticas incuráveis.
O Reino Unido é o primeiro país a liberar esse tipo de tratamento, apesar de o primeiro nascimento de um bebê com a técnica ter acontecido no México. Mark Walport, conselheiro científico do governo britânico, comemorou a decisão, ?cuidadosa e debatida?, que coloca os britânicos na dianteira na oferta de tratamentos de fertilização.
Com a aprovação, os primeiros bebês gerados a partir deste tratamento devem começar a nascer no ano que vem. A técnica é indicada para casais com riscos de passar para os filhos doenças mitocondriais. De acordo com estimativas, existem no Reino Unido cerca de 3 mil mulheres com esse tipo de problema, mas a liberação pode atrair casais estrangeiros atrás do sonho de se tornarem pais.
O procedimento consiste em transplante de núcleo entre dois óvulos. Uma mulher com DNA mitocondrial defeituoso, que pode passar ao filho diferentes doenças congênitas, tem o núcleo de seu óvulo removido. Este núcleo, carregando informações genéticas como altura, cor dos olhos e cor da pele, é então implantado no óvulo de uma doadora, com DNA mitocondrial saudável. Este óvulo, com informações de ambas as mulheres, é, em seguida, fecundado pelo esperma do pai. O embrião gerado tem 0,1% de DNA da doadora.
? A doação mitocondrial oferece uma oportunidade real para curar uma classe de condições potencialmente devastadoras e traz esperança para centenas de famílias afetadas ? disse Dagan Wells, na Universidade Oxford.
Por outro lado, críticos alertam para o risco do uso da engenharia genética para a geração de seres humanos. As mitocôndrias são estruturas encontradas no fluído dentro das células, que fornecem a energia para o bom funcionamento celular. Cada uma dessas estruturas possui apenas 37 genes, mas isso significa que são esses 37 genes da doadora que se fundirão ao material genético dos pais.
Os defensores sustentam que os genes mitocondriais não afetam a aparência ou a personalidade da criança. Porém, a maior parte dos 23 mil genes no genoma principal também podem ser alterados sem provocar mudanças na aparência ou na personalidade.